Velho, com longa barba, vestido com uma capa,
o Eremita aponta com uma das mãos a ampulheta que segura
com a outra. Esta iconografia é semelhante à do Eremita
do tarô pintado para a família Visconti-Sforza. A ampulheta
é o emblema do tempo que escoa e o da duração
da existência terrestre. O Eremita é uma representação
do tempo destruidor, em sua relação com a morte: ela
é, com freqüência, figurada com o mesmo instrumento,
ao lado de uma jovem, de um casal de namorados, de um cavaleiro.
O tempo, a morte, são temas muito presentes
nos séculos XV e XVI. A sociedade exprime, desse modo, sua
angústia diante da inexorabilidade da sorte, das guerras,
das epidemias, das fomes que dizimam a população daquela
época.
A ampulheta aparece na arte quando os artistas
quiseram ilustrar Os Triunfos de Petrarca, no qual o Tempo
triunfa sobre o Renome (ou Fama). Na Alemanha, foi utilizado em
temas diversos. Dürer (1471 e 1528) fez da ampulheta um de
seus símbolos ao associá-la às suas três
obras-primas, testamento espiritual do artista: São Jerônimo
em sua cela, O Cavaleiro, a Morte e o Diabo,
e Melancolia.
[Nota: Entre 1351 e 1352, Petrarca empreendeu
a redação dos Triunfos, poemas alegóricos em
tercetos, que revisaria muitas vezes, até sua morte, em janeiro
de 1374. Vencido pelo sono, o poeta italiano é espectador
de uma visão filosófica e moral que narra em seis
quadros: o Triunfo do Amor, o Triunfo da Castidade,
o Triunfo da Morte, o Triunfo do Renome, o Triunfo
do Tempo e o Triunfo da Eternidade].
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Tarô dito de Charles
VI ou Tarô Gringonneur: O Eremita.
Norte da Itália. Final do século XV.
Pintura com têmpera de ovo, sobre um
desenho preparatório com tinta negra, tipo sépia; decoração
com ramos estampados, após fixação de folha de
ouro e prata, sobre uma camada assentada sobre suporte de papel; dorso
branco sem adornos. Papel em várias camadas com "colarinhos"
à moda italiana, alguns dos quais estão roídos.
A parte do desenho dissimulado pelos "colarinhos" realizados
posteriormente, foram redesenhados. Dezessete cartas: 80/185 x 90/95
mm. Paris, Biblioteca Nacional da França,
Estampas, Res. Kh 24. http://expositions.bnf.fr/renais/grand/043.htm.
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