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29 de abril de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


 
GOM Tarot, o tarô de G. O. Mebes
Apresentação de
Constantino K. Riemma

Quando lemos a tradução brasileira do tratado de G. O. MebesOs Arcanos Maiores do Tarô. Curso de Enciclopédia do Ocultismo – logo chama atenção o fato de as descrições das lâminas não coincidirem com qualquer jogo de cartas conhecido. Na tradução de Marta Pécher, publicada no Brasil pela Ed. Pensamento, esses desenhos não foram reproduzidos.
Após um bom tempo de procura e com um pouco de sorte acabei por encontrar dois estudiosos russos que dispõem das ilustrações dos arcanos maiores que aparecem na edição de 1937, publicada na cidade chinesa de Xangai. Foi deles – Andriy Kostenko e Victor Olsufiev – que obtivemos as reproduções das cartas com as quais montamos as galerias que poderiam ser designadas como "O Tarô de Mebes".
Ilustrações de cartas associadas a GOM
Diferentes ilustrações estão associadas ao trabalho de G.O.Mebes,
como poderão ser observadas nas galerias apresentadas nesta resenha.
Veremos, a seguir, as informações que esses dois autores russos apresentam em seus sites sobre os desenhos de cartas associados a Mebes. Poderemos constatar, assim, diferentes vinculações de imagens ao texto de GOM. E, para finalizar, adicionamos dados biográficos de G. O. Mebes recolhidos por Marta Pécher.
Os Tarôs de G. O. M. na Rússia
Andriy Kostenko
G.O.M. são as iniciais de Gregory Ottonovich Mebes (1869-1930), um proeminente rosa-cruz pré-revolucionário da Rússia, que deixou uma importante obra sobre o Tarot. Na edição original de sua Enciclopédia do Ocultismo (1912), contudo, não apareceram ilustrações dos Arcanos Maiores que pudessem ser consideradas próprias ou exclusivas de sua escola.
Decker e Damman em “Histórias do tarô esotérico” (2002) relatam que, pouco após a publicação do livro, Mebes e seus alunos passaram a utilizar o Tarô Waite, mas com a numeração original francesa, Balança = 8 e Força = 11, sem a inversão feita no baralho inglês.     
Eis um resumo do que consegui recolher sobre as ilustrações para G.O.M.:
Em 1921, o livro Enciclopédia do Ocultismo teve sua segunda edição na Polônia. Essa edição traz a reprodução dos 22 arcanos maiores, três deles redesenhados a partir do Tarô de O. Wirth (1889) e as demais do Tarô Waite-Smith.
Em 1937, o Centro de Ocultismo russo de Xangai reedita o texto original do “Curso de Enciclopédia do Ocultismo”, com a adição de ilustrações de um artista desconhecido. Essas representações dos arcanos maiores, impressas em cor azul, estão nessa edição acompanhas de uma descrição que ressalta os detalhes que merecem atenção especial.
A Torre, O Julgamento e o Mundo no livro de GOM ppuboicado em Xangai (1937)
As ilustrações da Torre, do Julgamento e do Mundo no livro de G. O. Mebes publicado em Xangai (1937)
  As imagens da edição de 1937 coincidem em todos os detalhes com a descrição da tradução brasileira de Marta Pécher : Galeria dos arcanos GOM - imagens e descrições  
Em 1962, Dimitry Sudovsky (1900-67),  um esoterista de origem polonesa-prussiana, escrevia sob o pseudônimo de Mouni Sadhu “O Tarô: um curso contemporâneo sobre a quintessência do ocultismo hermético”, que na verdade consiste na tradução de palestras de G. O. Mebes. Neste livro, as ilustrações dos arcanos maiores são de autoria de Eva G. Lucas. Texto completo, em espanhol, está disponível na Biblioteca Digital
A Morte, a Temperança e o Diabo no libro de  Mouni Sadhu
A Morte, a Temperança e o Diabo no livro de Mouni Sadhu
Ilustrações de Eva G. Lucas
  Veja a reprodução dessas ilustrações em : Galeria Mouni Sadhu - Eva Lucas  
No início dos anos 80, o ocultista armênio Shaen Yeremyan, inspirado pelo livro de G.O.M. (1912) e pela aquisição de um baralho de Papus, produziu ilustrações buscando correspondência com as descrições de G.O. Mebes. Juntamente com a artista Susana Ayvazian, Shaen Yeremyan criou primeiramente o conjunto dos arcanos maiores e, em seguida, o dos arcanos menores. O jogo foi publicado em 2001 em pequena circulação e reeditada em Moscou, em 2003, com o título que pode ser traduzido por “GOM Kabbalistic Tarot” ou “Tarô Kabbalístico de G.O.M”.
Imagens do Tarot Kabbalistico de GOM
A Força desenhada por Susana Ayvasian, a caixa do baralho publicado em 2003 e a carta da Lua
 
Galeria das ilustrações de Susana Ayvazian : G.O.M. Tarot Yeremyan-Ayvazian
 
 
Uma galeria completa das cartas publicadas do “GOM Kabbalistic Tarot” está no site russo:
www.tarot-house.ru/koloda/russkoe-kabbalisticheskoe-taro-gom-russian-cabbalistic-tarot
Link indicado por Adiles Almada - RS Porto Alegre
 
Em 1994, a Editora Sofia, de Kiev, propôs a restauração do livro de G.O. Mebes (Xangai, 1937), adicionando cores e detalhes aos desenhos anônimos daquela edição. O projeto foi abandonado e o artista Vitaly Serdyukov conseguiu produzir apenas o primeiro arcano.
Alexander Morozov, que manteve a guarda do desenho original de Serdyukov, gentilmente me autorizou a reproduzi-lo.
.Ilustração de Vitalyu Serdyukov para o GOM Tarot
Foi uma pena a interrupção, pois a amostra que podemos apreciar, à esquerda,
revela que o artista manteria o perfil das ilustrações publicadas em 1937, à direita.
A edição chinesa da Enciclopédia de Ocultismo
Victor Olsufiev
As principais informações que encontrei sobre o tarot russo foram as oferecidas por Andrew Kostenko e referiam-se à edição do livro de G.O.M. (Mebes) em Xangai. Ao comentar a reedição desse livro na Rússia, em 1994, Kostenko afirma “Infelizmente a editora Sofia não conseguiu obter a impressão original de Xangai, o que explica a má qualidade da reprodução das ilustrações”, que foram reimpressas em preto e branco, numa qualidade muito inferior. Quando li esse artigo lembrei que tinha um exemplar da edição chinesa de 1937, na qual as imagens estão incluídas, impressas com tinta azul. É preciso dizer que a qualidade da impressão deixa muito a desejar, o que explica porque são tão difíceis de serem encontradas.
Ilustrações do Sol nos livros de de G. O. Mebes em 1937 e 1994.
19. O Sol, na edição chinesa (Xangai, 1937), impressa em azul e, na edição de 1994, em preto e branco.
A edição chinesa, feita em Xangai, 1937, reproduzia inteiramente o texto da primeira, de 1912, autorizada por Mebes, e também não citava nem apresentava as ilustrações dos jogos de cartas que haviam sido utilizados no curso dado por ele entre 1911 e 1912.
Na edição chinesa foi incluído um Epílogo, que remete às imagens inéditas adicionadas no miolo do livro, mas sem mencionar o nome de seu autor.
  Xangai, 1937. Veja as ilustrações do Curso de Enciclopédia do Ocultismo de G. O. Mebes, reproduções dos originais impressos em azul, acompanhadas da descrição : Galeria das imagens  
Seriam essas ilustrações impressas em azul as primeiras imagens de um Tarô russo? Dificilmente. Seriam elas da autoria de Vasily Masiutin? Até poderiam, embora as dúvidas sejam muitas.
De fato, os desenhos do tarô de Masiutin, reconhecidamente de sua autoria, foram feitos por volta de 1920, antes da revolução comunista, e são bem diferentes das que aparecem no livro de G.O. Mebes.
Os Enamorados e o Sol nos desenhos de Vasily Masyutin
As cartas 6. Namorados e 19. Sol desenhadas pelo artista russo Vasily Masiutin
Deixo para vocês compararem as ilustrações de Masyutin com as do livro publicado em Xangai, 1937.
  Tarot de Vasily Masiutin (1884-1955), conhecido artistas russo que desenhou lâminas para Tarot com V. Schmakov : Galeria Vasily Masiutin  
O texto original do estudo de Mebes sobre os arcanos maiores, publicado inicialmente em 1912, teve nova impressão, em 2003, pela Editora Enigma, na Rússia (capa à esquerda na ilustração abaixo).
Livros russos com textos de Mebes publicados em 2003 e 2007
Encontra-se igualmente disponível, para leitores da língua russa, um novo livro de Mebes sobre o tarô: trata-se da publicação, em 2007, de transcrições de palestras e comentários sobre os Arcanos Maiores, até então inéditas. Victor Olsufiev colaborou nessa edição (capa à direita na ilustração acima).
O relato da tradutora de Mebes para o português
Marta Pécher
na Introdução aos Arcanos Maiores
Uma amiga me trouxe, um dia, um velho livro russo, intitulado “Enciclopédia do Ocultismo” e editado em Xangai, na China, em 1937, pelo Centro Russo de Ocultismo. Interessada nos assuntos espiritualistas, ela o comprara por acaso.
A obra continha os ensinamentos de um misterioso “Mestre”, sem revelar o nome do autor ou dar outras informações a seu respeito.
Lido o livro, achei-o extremamente interessante e fiquei impressionada pela autoridade que emanava das palavras do “Mestre”. Não era a “certeza nascida da ignorância”, tão frequente nos escritos e palestras espiritualistas, mas parecia ser bem o resultado da experiência própria e do profundo saber.
Receando que o texto, tão valioso, pudesse perder-se pela destruição do livro, já em mau estado, comecei imediatamente o trabalho de sua tradução, procurando, ao mesmo tempo, descobrir quem seria o misterioso “Mestre”.
Depois de muita busca, consegui entrar em contato com pessoas ligadas, por laços de amizade ou mesmo de família, com os antigos discípulos do “Mestre”, e até trocar correspondência com um de seus discípulos diretos, vivendo então no Chile, e hoje já falecido.
A obra apresenta a transcrição de uma série de aulas ministradas  nos anos 1911-12, em São Petersburgo (naquele tempo capital da Rússia) por G. O. Mebes, mais conhecido como “GOM”.
Folha de rosto do livro "Curso de Enciclopédia do Ocultismo", publicado em Xangai, 1937,
e capa da tradução ao português por Marta Pécher, publicada em 1988.
Mebes, professor de matemática e de francês em dois dos melhores liceus da capital, era também chefe da Maçonaria, do Martinismo e da Rosa-cruz da Rússia, bem como fundador e dirigente da Escola Iniciática do Esoterismo Ocidental.
Em 1912, Mebes autorizou os alunos a publicar uma parte de suas aulas, principalmente para o uso da Escola. O livro apareceu numa edição muito limitada, tendo se esgotado rapidamente.
Após a revolução russa, quando as autoridades começaram a perseguir todo movimento religioso, a atividade espiritualista de Mebes tornou-se clandestina mas continuou até 1926, ano em que foi preso e deportado a um “gulag”, nas ilhas do Mar Branco. Faleceu poucos anos depois.
Alguns livros, no entanto, foram salvos e levados para além das fronteiras russas. Considerado já como obra clássica do ocultismo, o livro foi reeditado na China, em poucos exemplares ainda. Um destes chegou ao Brasil e, após o falecimento do seu detentor, foi vendido.
O título original russo “Enciclopédia do Ocultismo” poderá surpreender, todavia ele se explica pelo fato que os 22 Arcanos Maiores do Tarô encerram a gama total do ocultismo. Toda e qualquer manifestação no mundo por nós habitado apresenta uma faceta de um destes 22 Arcanos. Os mesmos abrangem a totalidade da vida da nossa Humanidade atual, decaída. Somente pelo nosso próprio esforço podemos ultrapassar esse circulo limitador e entrar no campo dos Arcanos Menores, regentes da Humanidade primordial, não decaída.
A todos que colaboraram na publicação “Os arcanos maiores do Tarô. Curso de Enciclopédia do Ocultismo” e, especialmente, a Fanny Ligeti, Simone Deceuninck, Maria Luiza de Andrade Simões, Dr. Sandor Pethö e José António Arantes meus mais sinceros agradecimentos.
  O texto acima é a transcrição da Apresentação que a tradutora Marta Pécher fez para a edição brasileira de "Os Arcanos Maiores do Tarô - Seu simbolismo, suas iniciações e seus passos para a realização espiritual. Curso de Enciclopédia do Ocultismo", publicada pela Editora Pensamento no final dos anos oitenta.  
 
Dados biográficos de G. O. Mebes e sua obra
Marta Pécher
no Prefácio aos Arcanos Menores
Na segunda metade do século XIX e primeira do XX, viveu na capital da Rússia, Petersburgo (hoje Leningrado), um dos maiores esoteristas de sua época, G. O. Mebes (1869-1930), mais conhecido como G.O.M. no seu trabalho espiritual.
G. O. Mebes, homem de cultura excepcional e de grandes poderes ocultos, era o chefe da "Fraternidade Russa da Cruz e da Rosa", que contava mais de 200 anos de existência naquele momento e, também, o fundador da “Escola de Iniciação ao Esoterismo Ocidental”. Em sua vida profissional, ocupava o cargo de professor de Francês e Matemática em duas das melhores escolas de São Petersburgo. Ele era bem conhecido e apreciado entre os membros da sociedade na então Capital da Rússia. No entanto, poucos sabiam de sua Escola. Só os convidados por ele eram ali admitidos.
A Escola tinha um “círculo exterior”, frequentado por todos os seus alunos, e também alguns “grupos interiores” formados de acordo com o nível evolutivo dos discípulos, suas aspirações e capacidades individuais.
Em 1912, prevendo a tempestade politica prestes a chegar à Rússia, G. O. Mebes consentiu que seus discípulos publicassem o ensinamento dado por ele sobre os 22 Arcanos Maiores do Tarot. O livro veio à luz com o título de Curso de Enciclopédia do Ocultismo, o que era totalmente justificado, pois por meio da explicação dos Arcanos, que são faces da Verdade, ele apresenta todas as ramificações e aspectos do ocultismo. A primeira edição foi rapidamente esgotada.
No final de 1917, quando o novo regime soviético começou a perseguir as religiões e o espiritualismo, a Escola de Mebes se tornou clandestina, mas seus trabalhos continuaram.
Capa da edição brasileira de aulas de G.O.Mebes sobre os ARcanos Menores
"Os Arcanos Menores do Tarô" foi compilado no Brasil por imigrantes russos,
discípulos e herdeiros de apontamentos das aulas dadas por G. O. Mebes.
O Nove de Paus, o Seis de Copas e o Dez de Ouros — exemplos de ilustrações.
À direita, a capa do livro com material traduzido por Marta Pécher.
Em 1926, devido à imprudência de um dos alunos, a Escola e as residências de seus membros foram invadidas pelas autoridades soviéticas, os documentos destruídos e todos aqueles que estavam ligados à Escola foram presos.
G. O. Mebes foi deportado para um gulag nas Ilhas Solovetsk, no Mar Branco, na região sub ártica. E lá faleceu em 1930.
Em 1937, A Enciclopédia, considerada como um clássico do ocultismo, foi de novo publicada em Xangai, na China.
Antes disso, na década de vinte, em Tallin, na Estônia, a teósofa russa Catarina Sreznewska-Zelenzeff, que se preparava para deixar a Europa e vir morar no Brasil, recebeu de sua amiga Nina Rudnikoff, discípula de Mebes, um material precioso sobre os Arcanos Menores do Tarot. Nina, ao fugir da Rússia, conseguira salvar suas anotações feitas durante os estudos na Escola. Ao saber que Catarina ia viajar para o Brasil, Nina lhe entregou as anotações que fizera dos ensinamentos que tinham sido ministrados por Mebes num dos grupos internos da Escola; pediu-lhe que guardasse as anotações e, um dia, o transmitisse aquele material a "alguém digno", a fim de que pudesse ser preservado.
Anos mais tarde, já no Brasil, por uma "coincidência" muito estranha, Catarina conheceu Nádia, viúva de Gabriel Iellatchitch, outro discípulo e grande amigo de Mebes. As duas senhoras decidiram viver juntas. Pouco tempo depois, o irmão de Nadia, Alexandre Nikitin-Nevelskoy, profundo conhecedor do esoterismo e também seguidor da Escola de Mebes, veio do Chile para morar com elas.
Reunindo suas anotações e com a ajuda das duas senhoras, Alexandre restabeleceu, na sua totalidade, o curso dos Arcanos Menores do Tarô. Desse modo, o desejo ardente de Nina tornou-se realidade, pois o material salvo foi não apenas transmitido a "alguém digno", mas também organizado por uma pessoa competente que, inclusive, pertencia à mesma egrégora. Isto permitiu que os trabalhos fossem traduzidos para o português.
Tal é a história do presente livro [Os Arcanos Menores do Tarô]. Esperamos que sua publicação no Brasil possa ser útil a algum peregrino do Caminho Espiritual.
  O texto acima é a transcrição do Prefácio que a tradutora Marta Pécher fez para a edição brasileira de "Os Arcanos Menores do Tarô - Seu simbolismo, suas iniciações e seus passos para a realização espiritual", publicada pela Editora Pensamento.  
  "Arcanos menores del tarot" é a tradução ao espanhol do livro publicado no Brasil. O texto em PDF está disponível na Internet e pode ser acessado na Biblioteca Digital : GOM em espanhol  
  Quero deixar registrada minha gratidão a Betty Feffer que, em 1988, me apresentou Marta Pécher, uma senhora de trato direto e caloroso, que me deixou forte impressão de acolhimento e competência. Esse contato com a tradutora de Mebes ao português foi, para mim, um importante estímulo na busca de outros níveis de compreensão do Tarô.  
 
Constantino, outubro.2008
Revisão: março.2017
 
 
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