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O vício do Alcolismo |
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Bem, eu estava adiando esse texto, não sei porquê. Talvez esperando os textos de Palavras de Osho e do Fer. Mas enfim, chegou a hora de Vícios, parte II: O Álcool e a Cartomancia. Sugiro que ouça a música Elephant Gun – Beirut enquanto lê o texto.
O álcool é uma droga lícita interessante. Enquanto a cada dia que passa o cigarro é mais e mais considerado um vilão sem precedentes (ao mesmo tempo em que pululam nas prateleiras cigarros saborizados – atrativo a jovens fumantes), as pesquisas recentes apontam o consumo moderado de álcool como algo saudável e, por vezes, recomendado. |
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O alcoolismo e o naipe de Copas |
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Ilustração de Isadora Segatto, feita especialmente para esse texto |
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Sugiro a leitura dos seguintes textos sobre o vinho e saúde em www.miolo.com.br e veja.abril.com.br/blog/vinho, ou então jogue a tag [álcool e saúde] em qualquer site de busca. O problema é que a linha que separa o excessivo do moderado é muito tênue, e normalmente não é vista pelo maior interessado: o consumidor.
O álcool destrói famílias. Ops, errei de propósito, e refaço a frase: o [usuário de] álcool destrói famílias. Ainda que a propensão genética para o alcoolismo seja realmente uma doença, o consumo do álcool é uma escolha. E como tal, pode ser visto como substrato para uma de nossas conversas cartomânticas. |
Mas, se o Oito de Espadas, a meu ver, representa o vício do cigarro, qual carta representaria o alcoolismo? Certamente uma carta de Copas, já que seu símbolo serve para sorver tanto a Água da Vida quanto Whisky (trocadilho infame: whisky, no original, significa Água da Vida, pois é uma água que não poderia ser contaminada – que microorganismo sobreviveria em tanto álcool?).
Mas, entre as dez cartas numeradas, qual seria mais indicada para o diagnóstico? Pensei, logicamente, no Oito: desilusão, tristeza, melancolia, depressão... Mas esses são motivos, não causas. O Sete também poderia representar bem o alcoolismo - a escolha entre diversas possibilidades (copas). |
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Sete de Oito de Copas no tarô de Waite |
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Mas há uma carta que, principalmente no Rider Waite, deixa clara a sensação que tinha em relação ao álcool: "mais uma dose? É claro que eu [não tenho certeza se] eu tô a fim...", já diria Cazuza vendo um Quatro de Copas.
A Zoe de Camaris escreveu sobre o Quatro de Copas em seu blog, relacionando o Quatro com o tédio – uma possibilidade claramente representada na postura do personagem desenhado por Lady Smith. Mas, ao debruçar-se sobre a representação de Lady Harris para o Thoth Tarot, comenta a tradução de seu nome, Luxury, como luxúria, exuberância, excesso de prazeres. Vale lembrar que a tradução correta do termo inglês, Luxury é luxo, fausto.
A Nelise Vieira, no Tarot Door, fala sobre a Conjectura, o Quatro de Copas do Kier: "A percepção, e a construção de uma visão explicativa dos acontecimentos, ajudam a organizar a ação. E para isto nada como a meditação e o isolamento, para trazer um discernimento maior.
"Este arcano fala que você estava muito envolvido com situações no seu ambiente que estavam te intimidando, e criando problemas. Você conseguiu se isolar, e com isto libertar-se de emoções que estavam lhe impedindo a enxergar melhor sua vida e encontrar a solução para seus problemas. Então começa a analisar com uma certa distância. Como estão suas relações? Existem pessoas convivendo com você que estão muito conturbadas? Tente separar quais são seus quais são dos outros?" |
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Quatro de Copas nos tarôs (da direita para a esquerda) Waite, Crowley, Kier e Osho |
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Muito semelhante ao Osho Zen Tarot: A carta “Voltando para dentro” representa uma mulher, feliz, que não se deixa abater pelo seu derredor. O vê, mas não se envolve. Reconhece-o, mas dele não participa. Vive sua vida, do seu jeito.
Há alguns outros possíveis significados no Shvoong e, claro, no Clube do Tarô sobre Copas
O alcoolismo, ao meu ver, relaciona-se com o tédio. O beber torna-se um escape, levemente aceitável, de situações e agruras que vêm atormentando a pessoa, seja o consulente ou quem quer que esteja sendo influenciado por sua ação. Imagine alguma situação que envolva um vexame alcoólico – todos nós temos alguma história dessas para contar. Agora leia a compilação do Constantino: “Cansaço, desgosto, aversão, vexames imaginários. Presentes são oferecidos ao perdulário, mas não lhe trazem consolo. Novidade, novas referências, novas relações.”
Parece familiar?
Resumindo as possibilidades que os diversos baralhos oferecem, o reconhecimento do alcoolismo ou da tendência ao mesmo pode ser trabalhado pelo reconhecimento dos seus riscos. Porque dizer “ah, mas é só um copinho, só um golinho…” não funciona. Muito menos sentir (auto) complacência ou (auto) piedade. O reconhecimento do ambiente e dos seus problemas nos traz muito mais possibilidades de enfrentar esse vício, do que sentir qualquer tipo de sentimento por ele – muitas vezes, a carência também serve de incentivo ao consumo do álcool. Não consigo ver o Tarot como um instrumento que sentirá pena ou apontará o dedo para a situação de alguém – pois isso decorre da interpretação de cada cartomante à luz de sua experiência. Contudo, como diagnóstico, sugere possibilidades do próprio consulente enfrentar seus medos, expectativas e ilusões. E sugere a troca do vinho pelo suco de uva, da cerveja por sua contraparte sem álcool, da dos destilados pela água saborizada… da inconsciência vexatória pela consciência dos próprios limites. Para superá-los, claro. |
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novembro.09 |
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Para ler os outros textos de Emanuel J. Santos sobre os Vícios e a Cartomancia clique os links abaixo: |
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