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28 de março de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


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O vício do Jogo
  Emanuel J. Santos  
Quando iniciei o questionamento dos vícios e de seu possível diagnóstico através da Cartomancia, realmente não me atentei para a natureza do jogo. Talvez pela relação direta entre jogo e baralho, e minha paixão assumidamente exagerada pelas cartas. Mas o vício existe, sim, e é algo para ser considerado.
Procurei formas de abordar a questão, já que o naipe que lhe corresponde soa claro, mesmo à primeira vista: o Naipe de Ouros, Pentáculos ou Discos. Procurei mesas de jogo onde pudesse verificar o comportamento dos participantes, em busca dos sinais que refletissem aspectos abordados pelas cartas. Mas, por incrível que pareça, não foi nas rodas de Truco ou de Buraco que eu encontrei uma boa possibilidade de análise, ainda que estas não percam seu mérito. Eu encontrei inspiração na Mega Sena.
Fila em casa lotérica   Fila numa casa lotérica de Brasília
A Loteria Federal e as mesmas filas em diferentes partes do País.
Imagens obidas em www.g1.globo.com (à esquerda) e www.www.abril.com.br (à direita)
A Mega Sena é um jogo, federal, onde os participantes pagam uma taxa para participar e escolhem um mínimo de seis dezenas entre cem. Acertando um mínimo de quatro entre as dezenas escolhidas, iniciam-se as premiações. Mas a ambição de todo jogador é acertar os seis números, o que significa a obtenção de milhões de reais. Milhões, por vezes chegando a possuir três dígitos. Algo atraente, não?
O que impressiona é a perspectiva, ínfima, de ganho. A probabilidade chega a ser de um para cada dezena, ou dezenas de milhar(es) de participantes! Isso não desanima os jogadores, antes parece inspirá-los; quem não gostaria de ser este... “um”?
De certa forma, esse embate possui um quê de Paus, pela competitividade e imaginação – todos querendo haurir do inconsciente coletivo a inspiração para o jogo. No entanto,
definitivamente, o foco insere-se no naipe de Ouros – de todos os vícios abordados anteriormente (o cigarro, o álcool e as drogas ilícitas), o jogo é o único vício que é encarado pelo viciado como um possível investimento.
Temos diversos exemplos no cinema, na literatura e na música que representam bem esse aspecto. Não foge ao nosso conhecimento pessoas que, num momento de desespero, apostam suas casas, carros e até suas mulheres numa mesa de carteado (como se as mulheres representassem uma posse!). Edgar Allan Poe, em seu magnífico conto “William Wilson” apresenta de forma dramática um trapaceiro no jogo, assim como uma imagem assaz carismática presente na galeria do Clube do Tarô – Trapaça – com homens jogando baralho.O jogo de cartas é mais próximo da trapaça, do embuste, sendo inclusive necessário em jogos como o Truco e o Pôquer.
Para chegar a esse objetivo, são criadas até mesmo cooperações de caráter horizontal: os bolões. No meio de uma fortuna tão imediata, não importa se um ou cento e quarenta milhões. O que importa é a radical modificação no modo de vida que se apresentará quando o volume estiver na conta bancária. Os olhos brilham em cifrões...
Como esse vício poderia ser alegorizado nas cartas do baralho? Creio que, primeiramente, deveríamos encontrar as cartas relacionadas com o ganho de dinheiro de forma inesperada, independentemente da sua natureza do ganho ser o jogo.
 
O Jogo ou o Julgamento
Uma versão do Julgamento,
com homens jogando
cartas e bocha.
www.taroteca.multiply.com/
photos/album/239/Jeu_De_Tarot

O Arcano Maior do Tarot, certamente, seria a Roda da Fortuna, por sua instabilidade convertida em milagre. Há um segundo Arcano Maior plausível, pelo menos pela abordagem do Thoth Tarot: o Ajustamento (A Justiça). No meio do caos de acontecimentos, há uma lógica inerente que mesmo que não compreendamos, nos norteia, até mesmo no inesperado.

A Roda da Fortuna no Toth Tarot A Justiça no Toth Tarot Seis de Ouros no Tarot de Etteilla O Sete de Ouros

A Roda da Fortuna e O Ajustamento, no Toth Tarot; o Seis e o Sete de Ouros no Tarô de Etteilla

Fontes das imagens www.trionfi.com (Tarô de Crowely) e www.tarot.com (Tarô de Etteilla)
Saindo das experiências arquetípicas para as experiências do cotidiano, encontramos, na Cartomancia tradicional (a que aprendi com a minha avó, já que os significados, ainda que semelhantes, modificam-se de autor/cartomante para autor/cartomante) duas cartas representando dinheiro: o seis e o sete de ouros, “pequenos” e “grandes dinheiros” (assim mesmo, no plural), respectivamente. O Tarô Adivinhatório (Vários autores, Editora Pensamento), possui cartas inspiradas na Cartomancia Francesa, especialmente naquela desenvolvida por Etteilla; entre elas, temos o Cinco de Bastões (Ouro), o Ás de Moedas invertido (Bolsa de Dinheiro), o Sete de Moedas (Dinheiro) e o Dez de Moedas invertido (Loteria).
Seis de Ouros no Tarot de Etteilla   O Ás de Ouros   O Dez de Ouros no Thoth Tarot de Etteilla
Cinco de Paus (Opulência / Ouro), Ás de Ouros (Bolsa / Entrada de Dinheiro)
e Dez de Ouros (Loteria ou Ganhos pela Sorte)
Imagens do Thoth Tarot de Etteilla in www.tarot.com
O Thoth Tarot, cujas experiências psíquicas, representadas iconograficamente, são definidas por palavras da ordem da Cartomancia (que, pelo menos na minha experiência pessoal, não passam de aproximações dadas por Crowley às experiências próprias da lâmina). Entre as cartas de Discos (Ouros), teríamos os Dois Discos (a Mudança), a dubialidade entre o Seis e o Sete (o Sucesso e o Fracasso, respectivamente), o Nove (o Ganho; nessa conjuntura, o Nove é a união de potenciais coletivos que se complementam em busca de um objetivo comum, bem próximo da experiência dos “bolões”) e o Dez (a Riqueza). De todas, o Dez, neste baralho, é o que mais se aproxima, por ser oitava menor d'A Fortuna e pela interpretação dada aos Discos: um fluxo circular de energia que deve ser mantido operante e ativo, a despeito da vontade de guardar, segurar, manter.
Peixes (Rei de Ouros) no Tarot Petit Lenormand
Peixes no Tarot Lenormand
www.esoterika.org
 
No Petit Lenormand (o Baralho dito Cigano, aqui no Brasil), a carta que mais se aproxima da experiência é a 34, os Peixes. Seu significado está intimamente ligado ao dinheiro em si, não à prosperidade (mais próxima da experiência da carta 5, as Árvores. Dinheiro, em minha concepção pessoal, seria um meio, enquanto a prosperidade seria um fim. Tanto é que diversos autores (especialmente Katja Bastos) nomeiam a carta 34 como “a Matéria”.
Mas o que indicaria o vício, especialmente? Li recentemente que o que caracteriza o vício não é o exagero, mas a constância. Tratando-se do álcool, não seria a bebedeira, mas o drink diário que vira hábito. Em relação ao nosso tema, não seria um grande investimento em um jogo, como a Mega Sena da Virada; mas o jogo constante, incluído até mesmo no orçamento familiar. Inicialmente, antes de refletir sobre o tema, supus que a carta mais adequada seria o Sete de Ouros, por sua característica cíclica; mas creio que, guardadas as devidas proporções, seria o Dez de Ouros a mais indicada. Mostra um apego a uma situação material (o jogo) visando uma transformação ou evolução (própria dos Dez). Sendo oitava menor d'A Fortuna, mostra a perspectiva de modificação repentina, mesmo que subentendida através
dessa permutação de significados. Mas o que mais marca o jogo e, sobretudo, o que realmente me deixa com a pulga atrás da orelha, é: quem joga há dez, vinte anos, realmente acredita em uma possível modificação advinda do jogo (o ganho dos milhões...) ou o gasto que ele representa tornou-se, simplesmente, um hábito?
fevereiro.10
Contato com o autor:
Emanuel J. Santos - http://conversascartomanticas.blogspot.com
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores
 
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