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26 de dezembro de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


  Crônicas de 2013: maio | abril | março | janeiro  
Revoltas nas senzalas
Rui Sá Silva Barros
 
Historiador e Astrólogo
Mais uma quadratura exata de Urano/Plutão e Marte passando pelo MC da União europeia deram um agito forte: na pacata Suécia os imigrantes e seus filhos sacudiram as periferias das grandes cidades com destruição e incêndios duramente reprimidos pela polícia e gangues xenófobas, num adeus à primazia sueca no IDH. Os episódios lembraram os de Paris anos atrás. Em Londres, dois militantes jihadistas mataram um soldado britânico, na rua em pleno dia, e ficaram esperando a polícia chegar dando entrevistas a passantes. Gangues xenófobas começaram imediatamente a atacar lojas e centros de imigrados. Já são 500 mil as pessoas que dependem de alimentação pública no país.
Soldado britânico morto
Homenagem a soldado britânico
morto por militantes jihadistas
www.noticias.terra.com.br
 
Em Paris, outro jihadista atacou e feriu um soldado e a capital viu também uma maciça manifestação contra a aprovação da união gay, apoiada pela maioria da população. Em Frankfurt a multidão cercou o prédio do BCE protestando contra a política de austeridade vigente e a reeleição de Merkel já não parece tão fácil.  Os europeus flertam com o Abismo: levaram 60 anos reconstruindo o continente e agora veem tudo se vaporizando e velhos fantasmas retornando.
No Oriente Médio o caldo também engrossou. A guerra civil síria transborda com a venda de armas russas (baterias antiaéreas), Hizbollah entrando na dança para defender Assad e Israel reclamando da venda das armas russas que poderiam atingir Tel Aviv. O governo israelense aumentou impostos e taxas e cortou despesas sociais do Orçamento atiçando protestos públicos, e pilota discretamente a questão do serviço militar dos religiosos (haredim).
No Irã, o Conselho religioso decepou duas candidaturas hostis e a presidência deve cair no colo do negociador da questão nuclear, que é totalmente afinado com a liderança religiosa. A repressão de 2009 ainda repercute fortemente e o estado da economia é bem precário.
O Império Otomano foi uma potência militar que fustigou a Europa Oriental e chegou até às portas de Viena quando foi detido em 1683. Guerras contínuas com os safávidas persas minaram a economia turca. No século XIX o império já era o doente da Europa disputado por ingleses e russos. A Grécia iniciou a independência em 1821, búlgaros, sérvios, croatas e macedônios na década de 1870. Os Jovens turcos (1908) tentaram deter a decadência, mas se aliaram à Alemanha e Áustria na Primeira Guerra e perderam todo o Oriente Médio para ingleses e franceses. Em 1923 Kemal Ataturk deu o golpe final e aboliu a monarquia. Procurou imediatamente ocidentalizar o país com a obrigação de uso do alfabeto latino, proibição de turbantes, véus e túnicas; e terno e chapéus obrigatórios. Isto num país de camponeses islâmicos. Cinco golpes militares ocorreram nos 90 anos da república. Faz parte da OTAN, mas a União europeia refuga sua entrada. O mapa abaixo mostra isto com clareza:
Mapa de Ancara
Ancara, 29 de outubro de 1923
Urano e Plutão nos ângulos, Marte na casa 4, o Sol se afastando de Saturno são os sinais de violência institucional. Apesar de toda pressão do governo a sociedade não se secularizou conforme esperado, as prisões turcas são famosas pela truculência, jornalistas e artistas são perseguidos e encarcerados, a mídia é controlada. Em 2002 raiou a esperança, o partido islâmico AKP conseguiu maioria e se instalou: a Turquia cresceu a uma taxa anual de 5% e seu papel no cenário internacional também. Rejeitada pela Europa o governo turco tratou de se aproximar do Oriente Médio e quando eclodiram as revoltas árabes tornou-se um modelo a ser imitado. A construção de um shopping num parque em Istambul deflagrou protestos que se espalharam pela brutal reação da polícia, o que mostra que a disposição à violência não é um privilégio de militares. Os sindicatos começaram a se mover e ameaçam generalizar os protestos e já se ouvem chamadas pela deposição de Erdogan, o premiê. Júpiter está próximo da Lua natal (o povo), Saturno próximo ao Sol (dirigentes), Urano e Plutão fustigam o Marte natal.
O premiê se comporta como se os últimos dez anos lhe dessem um cheque em branco, com isto restringiu a venda de álcool, os casos admissíveis para aborto, quer derrubar uma edificação em homenagem a Ataturk e construir algo que lembre as glórias do Império Otomano. Além disto, os turcos têm problemas sérios com os curdos no leste e os sírios refugiados no sul. Os protestos iniciais partiram de jovens escolarizados e laicos, o país já émuito urbano. O stellium na casa V aparece no destaque no esporte e nas artes (literatura e cinema). O país é um paraíso para turistas com um litoral glorioso no Mediterrâneo e ruínas arqueológicas de tirar o fôlego.
States – O governo e mídia vendem a ideia de uma revolução energética a partir do gás de xisto a baixo custo, como se o gás substituísse o petróleo (o que não é o caso) e não houvesse nenhum dano ambiental na extração, alguns estados já estão revendo as licenças concedidas. Cortes orçamentários já entraram em vigor e logo mais começarão a produzir efeitos deletérios. O FED emite sinais contraditórios sobre a expansão monetária e os especialistas no mercado futuro já veem um aumento de juros no horizonte, péssima notícia para os países que dependem de fluxos de capital para zerar o Balanço de Pagamentos.  A lista de telefones vigiados cresce e desperta denúncias e protestos, a sociedade de vigilância a todo vapor. Em julho há um retorno de Júpiter e um grande trino em água, o que pode dar uma brecha para o Governo se mover. 
China e Japão – O governo chinês finalmente conseguiu reduzir o crescimento para a faixa de  8% sem causar grandes transtornos, mas isto repercutiu nos preços das matérias-primas que importam provocando soluços na América Latina. A mobilização para a produção de equipamentos bélicos continua a todo vapor e o governo leva a sério o cerco promovido pelos EUA. Já o governo nipônico conseguiu criar uma bolha na bolsa de valores que começa a desinflar. O futuro do Japão é complicado com uma população idosa em crescimento constante a pressionar as contas públicas, um ministro sugeriu que os idosos morram o mais depressa possível para aliviá-las. O país depende de um iene barato para impulsionar as exportações que pagam as importações essenciais: energia, metais e carnes.
Brasil – Saturno em Escorpião continua a azucrinar o governo. A base aliada no Congresso provocou dor de cabeça em três votações importantes: código florestal, royalties do pré-sal e lei dos Portos. É o PMDB reclamando do represamento de emendas parlamentares, da fragilidade dos articuladores políticos do executivo, das disputas para a eleição dos governadores (o caso do Rio é o mais estridente), do papel de primo pobre  e insinuando um ‘volta Lula’.  O cenário econômico degradou um pouco mais. No Balanço de Pagamento o saldo comercial encolheu e acendeu luzes amarelas, o Orçamento depois de renúncias fiscais está apertado e o montante para pagar os juros minguou, o que pressiona a dívida pública.
Henrique Aves e Renan Calheiros
Henrique Aves e Renan Calheiros, pedras no meio do caminho de Dilma.
Foto da Agência Senado
No PIB do primeiro trimestre destacou-se o pífio crescimento de 0,1% do consumo das famílias (em relação ao trimestre anterior), mostrando que o endividamento e a inflação frearam o consumo e insistir com isto não vai resolver nada. O investimento cresceu 4% puxado pela venda de caminhões para o agronegócio, o que é bom, mas não é suficiente. Recentemente, Amir Khair que é um respeitado economista, especialista em finanças públicas, observava que com índices de investimento menores que o atual (18%), o PIB nas décadas de 1950 e 60 foram bem maiores que os atuais, o que é perfeitamente correto. Mas falta um pouco de história nesta observação, pois naquela ocasião a configuração econômica (instalação das indústrias automobilísticas e eletrodomésticas) e o papel do Governo Federal (metade do total de investimento) eram outros. Já Luiz Gonzaga Belluzo atribui as mazelas atuais à artificial paridade cambial do governo FHC, primeiro mandato. Sem dúvida foi desastroso, mas acabou há 15 anos e ninguém fez nada para consertá-la, agora o governo não se atreve a levar o dólar a 2,50, pois poderia acelerar a inflação e detonar a capacidade de consumo. Como se vê não é fácil sair deste enrosco.
Eu observaria que o país não conseguiu concluir a segunda fase da revolução industrial: petróleo, petroquímica, aço, eletricidade, máquinas/equipamentos e infraestrutura viária, continuamos a patinar nestes setores. A partir da última passagem de Saturno em Escorpião (83/5) o governo perdeu a capacidade de investimento, a Constituição de 88 direcionou muitos recursos para a seguridade social, a privatização das estatais agravou o quadro  e, apesar do aumento brutal da carga tributária, a situação não foi equacionada.  Não é possível aumentar o salário mínimo na velocidade recente e tocar as obras do PAC simultaneamente, não há dinheiro para tudo isto e não é recomendável aumentar o endividamento público com provável aumento da inflação.  Além disto, o país perdeu o bonde da terceira fase: automação, informatização, nanotecnologia e bioengenharia. Sem isto continuaremos exportando matérias-primas e importando manufaturados e serviços de alta tecnologia, pagando royalties, é claro.
A burocracia anda atrapalhando bastante as obras em curso (as concessões de ferrovias e rodovias do ano passado ainda não saíram do papel), o governo se enrosca na questão indígena e a CEF contribuiu para a bagunça ao mudar a programação de pagamento do Bolsa Família sem avisar os beneficiários. Os políticos e burocratas estão muito contentes com o estado de coisas e, por isto, vão autorizar mais 400 municípios que viverão de mesadas do Governo federal e estaduais. As exportações para os países da América Latina caíram e alguns criam um mercado no Pacífico torpedeando a ideia do Unasul, enquanto o Mercosul desandou a olhos vistos.
Tenho me divertido moderadamente com as receitas para endireitar o país. Para alguns precisamos de um homem providencial (‘onrado e onesto’) desvinculado dos partidos, já tivemos dois (Jânio e Collor) e o resultado não foi dos melhores. Outros, em surdina porque não são bestas, têm saudades dos militares, tempo bom aqueles sem banditismo e bandalheiras, mas já foram duas experiências (1930/45 e 1964/85) e o caos só aumentou. Alguns acreditam que fazendo superávit fiscal, usando a Selic para controlar a inflação,  deixando o câmbio flutuar livremente e privatizando a infraestrutura, a economia tomará rumo, esquecendo que ao seguir esta receita ela naufragou no segundo mandato FHC. Por outro lado, há defensores de uma maior estatização, só não explicam que seria necessário aumentar ainda mais a carga tributária ou fabricar dinheiro com risco para a inflação. São propostas paliativas e risíveis, o fato é que o Estado brasileiro chegou a um ponto que nenhuma reforma é mais capaz de fazê-lo funcionar a contento. No entanto esperar alguma iniciativa de burocratas e políticos é iludir-se. A coisa está nas mãos do povo que em 120 anos de experiência republicana foi incapaz de fazer uma greve geral. É preciso ter fé!
Clima – A concentração de gases carbônicos ultrapassou 400 ppm e foi noticiada pifiamente. Inundações fora de hora na Europa Central e temporada forte de tornados nos EUA, mas não é para se preocupar, dizem os especialistas, são variações naturais que vão se resolver um dia, como a estagnação na economia. Esta cegueira voluntária diante dos perigos é a maior ameaça no horizonte, uma obstinada vontade de mergulhar no imediato e ficar por ali. O passado se converte num armazém de onde a indústria do entretenimento retira materiais e o futuro é objeto desta mesma indústria, para exaltar o progresso tecnológico ou a catástrofe. O embotamento psíquico veio do fascínio pelas máquinas eletromagnéticas e da indústria do entretenimento, nos tornamos especialistas em coisas descartáveis até mesmo na cultura e afetividade.  Nisto a vida se torna um fardo, com profusão de violência, doenças degenerativas e depressões, então entram em ação os vendedores de otimismo.
Enchente na Europa Central
Enchente na Europa Central.
www1.folha.uol.com
A Qabbalah, vamos acabá-la? Gershon Scholem mostrou com muitas evidências que a Cabala seguiu e comentou as tribulações da vida judaica pelos milênios. A expulsão da Espanha (1492) foi recebida como uma nova Golah (exílio) e 50 anos depois se formou uma comunidade cabalista em Safed (norte de Israel) comandada por Cordovero, Isaac Luria, Haim Vital e outros. Estavam preocupados com temas messiânicos e o que escreveram ainda é estudado com atenção. A Shoah (Holocausto) foi infinitamente mais dolorosa, um cume da destrutividade humana e 50 anos depois os judeus resolveram popularizar a Cabala, escrevendo sobre o tema em línguas ocidentais. Popularizar metafísica é complicado, mais complicado ainda que difundir mecânica quântica. De todo jeito talvez valha a pena a empreitada, mas há formas e formas para isto. O Sefer Yetzirah foi publicado em latim antes da versão hebraica no século XVI e fascinou intelectuais europeus durante 400 anos, recentemente Arieh Kaplan publicou comentários detalhados sobre o curto texto e para surpresa geral trata-se de um livro sobre práticas meditativas, detalhe que escapou aos comentaristas europeus. O livro foi traduzido para o português pela editora Sefer, vê-se imediatamente que são de autoria de um erudito que experimentou tudo aquilo.
Kabbalah Center, Los Angeles.
Kabbalah Center, Los Angeles
www.privateinvesigations.blogspot.com
Outra forma de popularização foi adotada pelo rabino Berg, neto de cabalistas. Abriu em Los Angeles um centro que atraiu artistas pop e divulgou amplamente a Cabala que se tornou uma mercadoria vendável: autoajuda com vocabulário exótico, alguns mantras e pencas de amuletos de proteção. Tive oportunidade de ver no You Tube uma palestra de um instrutor do Centro. Ficamos sabendo que a Torah é um Código, é claro, a criptografia é o cume do saber humano; e que vivemos num mundo Iluminado, a neon, e como mostra o noticiário comentado nesta crônica. A reencarnação, um conceito manejado com muito cuidado pelos cabalistas antigos, é explicado em termos kardecistas.  A palavra evolução é empregada em cada frase, sendo que nunca aparece na literatura clássica. E há uma preocupação obsessiva em mostrar que a Cabala está perfeitamente afinada com as modernas ciências empíricas, segundo eles Luria, com o conceito de tzimtzum, teria antecipado a teoria do Big Bang. Os importantes cabalistas medievais não são estudados (Isaac, o cego, Nachmânides, Abulafia, Mosheh de Leon) e sem eles não estaríamos falando em Cabala. Isto tinha que nascer no país que inventou a iniciação por correspondência. Se os participantes destes cursos conseguirem um pouco de autocontenção e deixarem de fomentar confusão já valeu a pena.  Teshuvah e Yom Kippur, são os meus votos.
Contato com o autor:
Rui Sá Silva Barros é historiador, astrólogo e
estudioso da Cabala: rui.ssbarros@uol.com.br
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores
Edição: ckr – junho.13
  Baralho Cigano
  Tarô Egípcio
  Quatro pilares
  Orientação
  O Momento
  I Ching
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