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O Caminho do Tarot |
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Alejandro Jodorowsky e Marianne Costa |
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O livro O Caminho do Tarot de autoria de Alejandro Jodorowsky e Marianne Costa, foi traduzido ao português por Alexandre Barbosa de Souza do original francês La Voie du Tarot. Publicado pela Editora Chave, no final de 2016, tem 576 páginas. |
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O Caminho do Tarot, livro de Alejandro Jodorowssky e Marianne Costa |
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Alejandro Jodorowsky é reconhecido como um artista multifacetado,
cineasta, ator,
dramaturgo,
autor visionário
e psicoterapeuta inovador;
há 30 anos tem trilhado igualmente pelo tarot. |
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No dia 19 de novembro de 2016 foi realizado, em São Paulo, o lançamento de O Caminho do Tarot, já referido como um clássico de Alejandro Jodorowsky e Marianne Costa. |
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Quando comecei meus estudos do Tarot do Marselha li muitos livros, a maioria com sérios limites. Tratavam o estudo das cartas como um exercício de "decoreba" de significados básicos. Li alguns bons títulos também, mas nada igual a O Caminho do Tarot, que se transformou num guia para mim. Ao contrário da ideia do "manual", o guia (como o próprio tarot) te aponta um caminho solicitando uma devolutiva, uma contribuição de quem o lê. No caso do livro de Jodorowsky e Costa, seguir por este caminho equivale a entender o baralho de um modo criativo, uma superfície sobre a qual você se projeta para daí expressar algo absolutamente novo, uma tela em que você pode inscrever sua libido e suas emoções no uso diário para o autoconhecimento e no auxílio a quem busca compreender-se, sanar-se e viver melhor. Uma das principais contribuições do livro é, portanto, o entendimento do estudo e da prática do tarot como exercício criador, e o estabelecimento do que seria um "pensamento tarológico". |
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O fato do lançamento do livro ter ocorrido na Ugra Press em São Paulo, uma loja especializada em histórias em quadrinhos, foi especialmente feliz neste sentido. A HQ, assim como o cinema, é uma arte narrativa que se faz através da combinação e da recombinação de imagens, valendo-se de toda sorte de mecanismos de ligação entre os diversos quadros: direção de olhar, posição relativa de personagens e objetos, concatenação de movimentos e formas (o raccord cinematográfico), transmutações simbólicas e projeções psíquicas - exatamente como na prática com o tarot! O tarot, expressão anímica sagrada, terapêutica, arquetípica e universal, uma arte de narrativas primordiais e infinitas, é afinal maior do que o habitual "meio esotérico" (o caráter pavoroso, do ponto de vista estético, da maioria dos espaços ditos "místicos" ou "esotéricos", revela padronizações de uma sensibilidade pobre, algo é absolutamente raquítico também na própria sociedade como um todo). Enfim, é importante que o tarot transcenda os limites que qualquer meio. O tarot em si não tem limites e merece estar em toda parte. |
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O tarólogo André Mardouro, o jornalista Ronaldo Bressane e
o tradutor
Alexandre Barbosa de Souza num bate-papo sobre o livro na
Livraria Ugra Press, SP |
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A abordagem jodorowskyana é também provocadora. Ela pega um caminho diferente dos "bruxinhos" e "bruxinhas". Jodorowsky e Costa nos ensinam que o futuro não existe, e que a diferença entre a previsão e a programação, ou mesmo a maldição, é muito tênue e perigosa, dando margem fácil ao charlatanismo - afinal, quem somos nós para termos a pretensão de prever o futuro? Como no zen-budismo, para os autores só o presente existe e é o que mais deve nos interessar: de que adianta ficar a espera de uma felicidade localizada num eterno devir? Temos que ser felizes agora, num exercício fundamental de presentificação e de superação das armadilhas construídas no inconsciente pelas forças da família, da sociedade e da cultura, que desde o nosso nascimento estabelecem sérios limites para o desenvolvimento pessoal do caráter, da sensibilidade, do espírito, do intelecto e da vontade. |
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Por estas características, não foi pouca até aqui a estranheza e a resistência a suas ideias dentro da cultura estabelecida em torno do tarot no Brasil, que apesar de contar com muita gente séria permanece permeada pela prática da futurologia, pelas ciganas fantasiadas que "trazem seu amor de volta", e por consulentes que buscam mais o alívio distraído que a cura, e que se satisfazem com pobrezinhas e pequenas mistificações - basta um passeio pelas chamadas "feiras místicas", uma olhadela nos classificados esotéricos dos jornais, ou mesmo uma passada nos portais de consultas online para poder constatar isto muito facilmente. Mas a compreensão e a aceitação de suas perspectivas também tem sido crescente, e a publicação de O Caminho do Tarot em português certamente dará uma enorme contribuição na superação dos velhos paradigmas (a própria tradução é, em alguns pontos, marcada por algumas controvérsias brasileiras, como chamar o "Le Pendu" (O Dependurado) por "O Enforcado", algo que não corresponde em absoluto com a imagem e o sentido do arcano). |
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Sessão de autógrafos com Alejandro Jodorowsky (performance de Rose D'Agostino) |
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Mas tudo o que se pode dizer do livro não é suficiente para contemplar seu alcance, um verdadeiro tratado de morfologia e estrutura, numa contribuição decisiva. Em O Caminho do Tarot as cartas não são abordadas isoladamente, como na maioria dos "manuais", mas como se fizessem parte um organismo vivo, como um corpo cuja forma precisa ser descoberta. Assim, cada carta tem relação com o todo, permitindo a constituição de uma mandala formada pelas 78 cartas do baralho, construída criteriosamente passo a passo a partir do arcano XXI, O Mundo, que conteria esquematicamente todo o tarot. Seu método de análise das imagens, baseado na divisão das cartas em um duplo quadrado, e este em pequenos quadrantes dentro de uma estrutura numerológica decimal, estabelece perspectivas agudas para a análise e a compreensão das imagens, auxiliando especialmente no estudo dos arcanos menores, cujo simbolismo abstrato apresenta um desafio adicional aos olhos ocidentais, habituados aos esquemas figurativos de representação. |
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Há, todavia, como em tudo que se pode dizer do tarot, pontos questionáveis (poucos) na metodologia exposta. Mas Jodorowsky e Costa são honestos e conscientes na escritura, assumindo os limites de uma visão que não deve ser considerada, em hipótese alguma, a mais verdadeira, ou a definitiva. De qualquer maneira a consistência do estudo e das abordagens salta aos olhos numa linguagem ao mesmo tempo densa e vertical, rica e clara, de fácil leitura. Jodorowsky é um exímio narrador, muito sério e preciso e, ao mesmo tempo, louco e farsante. Todo o livro parte do próprio Tarot de Marselha restaurado por Jodorowsky e Philippe Camoin, um herdeiro de Nicolás Conver, um importante impressor marselhês do século XVIII; e a história de que eles teriam encontrado o "tarot de marselha original" numa lojinha de antiguidades no México, estabelecendo uma base histórica importante para a pesquisa durante o processo de restauro parecerá claramente, aos leitores atentos, uma lorota. Mas o que vale é a qualidade da história, plena de verdade narrativa. Farsa sagrada. |
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Um livro obrigatório a todos que se dedicam ao estudo do Tarot de Marselha e da alma humana. |
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Que seja muito bem-vindo, e aproveitado! |
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A aquisição de livros e jogos de tarô pode ser realizada pela
loja virtual
especializada em tarô e parceira do Clube do Tarô: www.simbolika.com.br |
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Outros artigos sobre o trabalho de Alejandro Jodorowsky disponíveis no Clube do Tarô: |
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