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Poemas para A Força |
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Sua procura não se encerra aqui.
Talvez mais adiante
quando a luz do fim do túnel
for mais firme
a seus olhos encobertos.
Talvez tudo se revele
quando a procura cessar,
talvez tudo se encontre
quando abrir os olhos e ver
a Luz em todo lugar.
E, nesse momento,
não haverá túnel,
não haverá passagem |
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apenas você em cada olhar! |
agosto.05 |
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Flávio Alberoni - odontologista, coordena grupos de
estudos esotéricos nos quais utiliza os arcanos do tarô.
Poeta, colabora na seção de Poemas e no Fórum.
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores
Contatos: alberoni@uol.com.br |
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Encontrei a mãe na encruzilhada,
negra como a noite
sublime, com suas vestes claras.
Seus olhos eram estrelas
Na difusa névoa que me envolvia.
Logo o homem trouxe o Sol na mãos
E tirou dos meus ombros
o véu da dama que já me encobria.
O véu que me dissipava as sombras
o véu que me engrandecia.
Claro como dia era seu sorriso
e ela uma neblina no aconchego e quente.
Ambos me confundiam com seu olhar profundo.
Fechei os olhos ...
Nascendo de mim
dentro de mim
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o conflito perecia. |
outubro.05 |
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Poemas para O Pendurado |
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Ouço o chamado:
– Desperta-te para o apostolado!
Me iniciar mais uma vez?
Abandonar a paixão que me cega
e me aninha?
Que medo morrer pendurada,
o terror de cambiar o olhar
perder-me de um mundo certo
tornar-me outra na incerteza
Outra vez deixar
o Vale dos Reis
onde, adormecida, volta e meia
moro e peregrino
Meu único olho aberto
soa inocente como o de um recém-nascido,
minhas mãos atadas se abrem
moedas caem sem tilintar
Descubro,
não são dinheiros
mas, sementes
Desatando os pés
rodopio em dança de dervixe
minhas mãos agora se libertam
volto a ter os pés no chão
Cegueira e faca no peito?
Nunca mais essa tortura! |
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O Apostolado |
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Aquarela de Eliane Accioly Fonseca |
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Eunice Arruda
do livro À Beira, 1999 |
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Ainda assim
bebo o úmido
da seiva
Ainda assim
- estômago na boca -
mastigo o alimento
da terra
Pressentindo as raízes |
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Pendia de uma árvore
Cujas raízes estavam no céu
E os frutos
Pendiam no chão
O Deus dos homens
Senhor das feras
E dos bosques
Cernunos, Odin,
Oxossi, Pã...
Puro como Jesus,
Silencioso como Sidarta...
E neste momento esvaiu-se
Para sempre a inocência
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Só um pouco de cansaço
e talvez por isso
tudo fique mais lento.
Não um cansaço dos ossos
nem esses de alma
nem dessa visão do mundo
que já falei tanto e tantas
vezes.
Mas algo que me prende ao solo
e tenho de tirar dos ombros
para conseguir respirar.
Mas, que adianta?
A sensação ainda persiste.
Melhor fechar os olhos...
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Poemas para A Morte |
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Arcano 13 suavizado pelo 2 |
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Talvez traga algo
que sempre procurei. Pode vir numa palavra
ou numa história,
ou apenas num olhar lúcido.
Talvez.
De qualquer modo
marca em mim uma certa ansiedade,
pelo provável encontro.
Chove aí fora?
Por aqui ainda não,
mas é como se uma tempestade
gristasse raivosa
na relva do jardim.
Talvez seja melhor – sempre é melhor –
o silêncio encobrir os meus atos,
e esperar... |
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em contemplação |
fevereiro.07 |
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Ensinou-me de frestas de montanhas,
do murmúrio dos ribeirões,
a ordenhar vacas enquanto líamos
Kafka
a sobreviver em casa costureira
feminina e desordeira
em meio a azáfama de tesouras
e frufru de tecidos
Com ele aprendi de cercas de maracujá,
de cheiros de folha machucada
e dos mistérios gozosos
roxos e amarelos da flor guardiã
dos instrumentos da paixão
Tivemos lições de caminhar
descalços
em caminhos pedregosos,
correr na praia e surfar o mar
Vivemos as artes do amor
e os perigos das curvas umidades
no calor e frescor de meu corpo
ao ritmo do dele se fundindo
Juntos apreciamos caipirinhas,
conhecemos vinho branco, tinto, rosado
e desprezamos no copo a borra do conhaque
Viajamos pelas diferenças
entre o deserto
as estradas de terra e o asfalto
das ruas apinhadas das cidades
Um dia, entretanto,
ele que jamais
me deixaria
estende um mapa sobre seus joelhos
pergunto-lhe: “mapa do quê?”
“Uma cartografia de pessoas
mortas”, me diz
apontando como quem nada quer:
“este ponto rajado aqui embaixo,
sou eu”
parecia Kafka a ordenhar uma vaca
e em seguida, como quem nada quer,
coloca o mapa sob o braço,
como se baguete
e sem outra palavra se vai
sem se voltar, um tanto claudicante
Em dias-noite mergulho
em tristeza, a mais trágica
das criaturas:
o sol jamais retornaria,
o mestre o levara, como ao mapa
Quando, porém, contra minha
vontade,
o sol renasce
acende-se a luz de uma parcela minha
que ficava alhures e, como quem nada
quer,
me humanizo mais um tanto
Percebo-me menos alegre,
mais desassossegada e
uma inquieta incerteza quando descubro: |
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a partir de então, ninguém
me guiaria |
2006 |
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Enquanto
o gato que me habitava morria,
(sete vidas espertas e bem vividas
agora moribundas)
um espelho explode todo um planeta,
a noite escura abate minha alma:
que
mais em mim quebrando se esvaía?
Como
ficar sem os muros
as heras e unhas-de-gato
as noites de cios vadios
as brigas e a malandragem
os gritos nas madrugadas
as travessias de ruas?
Sem
o vício por sardinha
sem as cumbucas floridas
entornando leite ou água?
Sem
os dengos
sem as manhas
o novelo arrepiado
e a poltrona beije rasgada
de afiar vinte garras?
Como perder o poder
de fazer tremer e correr
ratazanas e baratas?
A oitava vida parte, lunar,
em tranças pretas e prata
Nenhum
príncipe para me acordar
(mas também, nenhuma torre
de onde ser libertada)
A
grande morte chegara?
Passada a quarentena
brotos de um verde tímido,
os vigias guardiões,
me tiram da cidadela gritando uma
notícia:
"ouça
o poeta a forjar um dia mais
martela a bigorna,
não sons de cristal, bem de
bronze,
as palavras – esteira de mil
sinos –
acordam inteira uma cidade, escuta!"
Um
último suspiro apaga
a chama da pena de mim
seco os olhos, abro cortinas e persianas
com a força dançarina
de mãos e braços,
e felina, (a isto não renuncio...)
espreguiço diante de um Sol
acolhedor
a letargia sim espanto em uma cascata
gelada
(coisa que gato abomina)
Me
penteio, escovo os dentes
visto velhas pantalonas
e descalça, preparo-me para
rodar
mais algumas tantas milhas
por estreitas vigílias escarpadas, |
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O
gato-maravilha que em mim morreu
muitas vezes retorna,
cara redonda e invisível
Sua
sombra errante corre livre
na saudade de bandos vadios
arrepiando as ruas e as paredes
de meu corpo
Intumescente
lábio de lua crescente
fixo só na aparência
ri de mim, Alice,
prisioneira dos contrários,
o país dos espelhos
onde me extravio
na aprendizagem banal e mágica
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Vi as árvores caídas
e não pensei nelas. Eram crianças
famintas gritando por comer.
Homens destruindo
esmagam seus filhos, já cegos de si,
não vêem nada e resgatam
seus dramas do dia
mutilando tantos,
matando a vida,
morrendo aos poucos,
cada dia.
Tentei beber água
de uma nascente, próxima a um cipreste caído e apodrecido. Musgos o cobriam como vermes e mesmo os musgos eram belos, nesse esqueleto doído! Um gnomo fazia dela sua casa e olhava para mim com uma vela nas mãos, vazia de fogo. Quase só percebi o seu chapéu quando fugia amedrontado corria.
A água – eu dizia da água –
era límpida. Lágrimas de uma terra desprezada
e ofendida. Sangue
do homem a descobrir... |
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Salvou o meu dia!! |
setembro.05 |
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Poemas para A Temperança |
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Chegou a hora
de ser um pouco anjo
descansar da dor de ser mulher
Chegou a hora
de ser asas azuis e água
e jorrar de uma fonte
para outra fonte
Chegou a hora!
Que nenhuma gota se perca
se cada gota sou eu
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A Temperança |
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Aquarela de Eliane Accioly Fonseca |
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Anjo
dá guarda
Eu estou atravessando
Também me empresta
de tuas asas
o vôo
Que eu chegue a nenhum lugar |
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Orides Fontela
(1940-1998 |
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A moça do cântaro
e seu gesto essencial:
dar água. |
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Um anjo com os pés no chão,
prepara bebida celeste.
Ah, que saudades me dá
este dom da infância! |
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setembro.08 |
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Logo
após o preparo
e no devido tempo
o Anjo Solar
circula a energia
com suas ânforas vazias.
Não a contém pela mente
no círculo vasto que vislumbro
apreendo e pouco entendo,
apenas acompanho deslumbrado
sua dança e as mãos espalmadas
em círculos completos.
Em certo momento crítico
parece que para
e retorna suave em outro nível
que no entanto é o mesmo!
Não percebo movimento
ao acaso, e cada momento
compassado é atento
como por acidente o portal
que esconde o centro vívido
se revela...
e apenas neste momento mágico
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eu penetro na Vida e ... entendo! |
03.outubro.2005 |
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Poemas para O Diabo |
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Prendo-me a detalhes
e neles encontro minha força.
Observo no dourado
que é emitido da flor
que não possuo e a sinto minha.
Com os olhos acaricio
a imagem da santa. É de prata,
talvez olhos de esmeralda, é linda,
mas não importa. O ser que a invade
quando meus olhos rezam com prazer único
a vê plena e completa.
Meus olhos criam imagens
mesmo que não queira.
Sou lúcido. Os meus apegos
constroem o finito,
e me jogam no horizonte. |
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Anjo caído recaio
na paixão pelo homem
com a faca no peito
A cada abraço mais dôo
olhos vendados, atada
Regresso ao vale dos Reis
ao sono
vigília e reza esquecidas
Foi desta vez
o silêncio a me acordar
quando, espantada, vejo:
– Por deus,
A faca está no meu peito
Acalanto
1
(no medo de morrer
durmo sono pesado
viro sapo-de-pedra
sonâmbula, moro
entre os parentes)
em paixão
e febre do feno
queimo o medo da morte
pólen, teimo:
morro e renasço
2
medo oco do escuro
tece coroa de espinho,
não deixa menino dormir
3
candeia de cera e mel,
uma cadela pastora
pastora sonhos
e sombras, ovelhas
negras e brancas
Canção do nó cego
Há um olho redondo
no meio da dOr,
Uma nódoa
um nó
Me conta a dOr
com seu olho de peixe:
Há na nódoa um nó que não vê
E dentro do sono, o sono
Tuas pestanas
pedras
caem-me no sono
Cílios sem olho
asas sem pássaro
Sonho abandono |
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A Paixão |
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Aquarela de Eliane Accioly Fonseca |
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Arcano 15 invertido. Ouvindo João Mário |
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Para se construir o que é real
há que se ficar atento
Tudo se desfaz
em terceiro momento –
velhos hábitos são movidos
e desaparecem no movimento.
Melhor percebê-los de imediato
melhor haver desapego e ausência de ilusão,
para que a separação não doa
e não restem marcas ou solidão.
De vez em quando
uma pausa para um café
logo ao anoitecer –
e o meu bem forte
com açúcar por favor!
– Quero ficar desperto quando a crise vier
e se for,
deixando como cinzas sólidas a profunda alegria,
e a total ausência de paixão!!! |
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Todo mundo nu.
Liberou geral.
Entro nessa ou não ?! |
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Pelo toque profundo
marcas incrustadas na pele
lembradas por anos e vidas
ainda por viver.
Depois, um instante em reflexão
parado no templo,
seu reflexo como gotas de orvalhos
destruidas pelo Sol
em faces coloridas.
Mais tarde, mais adiante
quando tudo for esquecido
e despojado de tudo
retoma o processo.
Ganha com isso
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Pintura de
Michaël BELLON |
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sua própria vida! |
novembro.05 |
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