|
|
|
|
____________ |
|
Poemas para A Torre |
|
____________ |
|
|
|
|
|
|
|
Na surdina como quem não quer nada
dispo-me das armas que eu tinha até então.
Toca baixinho
um canto gregoriano na vitrola
para apenas meu coração ouvir.
Há uma espada reluzente
pelo pouco uso
uma aljava com duas setas
e um arco já remendado
quebrado pelo último serviço:
errei o alvo, errei a postura
e apenas apreciei como voyer
a paisagem e a seta
percorrendo o ar - simulacro do infinito.
O canto religioso
dá mais que o clima do poema
e de meu estado contemplativo:
abre como uma chave algo dentro de mim
até hoje escondido.
Não adivinha? Pois a chave é sua
a fechadura lhe pertence
e sou apenas - e mais uma vez -
um contemplador do que quero e não tenho
mas não sei como me decidir.
Acovardo-me. Envergonho-me.
Até esta decisão deixo em suas mãos.
Pois já não decido nada propriamente
apenas aceito o que a vida
me há de vir. |
|
|
junho.2018 |
|
|
|
|
Flávio Alberoni - odontologista, coordena grupos de
estudos esotéricos nos quais utiliza os arcanos do tarô.
Poeta, colabora na seção de Poemas e no Fórum.
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores
Contatos: alberoni@uol.com.br |
|
|
|
|
|
|
|
|
afinal
construímos prédios
casas jardins rosas
desabrocharam
trêmulas, afinal fomos
submissos às ocupações do dia
às estações do ano
à rotação da terra
|
|
|
|
|
|
|
Pensávamos ser esta a nossa pátria |
setembro.08 |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Soltei um grito (inumano) há pouco,
logo agora
às dezesseis horas
nesta segunda-feira cheia de calor.
Não sei porquê.
Veio-me pela boca
como algo inesperado, algo inusitado
algo perdido.
Pareceu-me que morria por dentro
o que eu queria com o coração
e não me era permitido ter
nas minhas mãos.
Tanta coisa aconteceu
logo após o grito e ... por segundos!
Naquele instante
senti que morri. Naquele instante
senti
que morri. Naquele instante
senti que morri.
|
|
|
|
|
|
|
Naquele instante senti que morri! |
março.07 |
|
|
|
Flávio Alberoni - odontologista, coordena grupos de
estudos esotéricos nos quais utiliza os arcanos do tarô.
Poeta, colabora na seção de Poemas e no Fórum.
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores
Contatos: alberoni@uol.com.br |
|
|
|
|
|
|
|
|
Garrafa de champanhe estourada,
prazer carnal consumado.
Presente do Diabo ou dom da Estrela? |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Se meu toque
lhe parecer violento
você se engana.
Meu toque de alma é suave,
meu toque apenas alinha as cores
que da essência fogem
pelo transcorrer da vida.
E não são elas que lhe devem dar a tônica
a fibra, a primeira escolha sensível
durante o único dia!
Por isso o mantra abrupto
– para lembrar você e os seus
e pelo apego de si acima de tudo,
donde vem, para que nasce
para onde deve focalizarseu primeiro olhar.
Sua fundamental vida! |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
____________ |
|
Poemas para A Estrela |
|
____________ |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Na hora mágica de todos os dias
tomava o café e comia o meu pão.
na hora mágica de todos os dias.
Apreciava o conforto da sala
o calor da casa, a sensível companhia
que a meu lado sorria ao me dizer bom dia!
E de repente não era eu apenas
apreciando e sentindo tudo:
ouvi o som das maritacas dentro de mim
o padre na missa - levantei com ele a hóstia!
Conceição bebia o meu café.
Eu criança, tomava também o café, meus pais
meus filhos bebiam o meu café, meus netos
meus amigos, meu grupo desta vida
bebíamos juntos o café.
Assombrei-me pelo que via:
Percebi-me Lua e estrelas
tomando o café. Toda minha geração
deste mundo se formando...
Tomando comigo
o café.
E parei, assombrado. Saciado, pleno
completo, em sintonia com tudo
qual paisagem de uma trilha.
Eu próprio... paisagem e vida. |
|
|
junho.2022 |
|
|
|
|
Flávio Alberoni - odontologista, coordena grupos de
estudos esotéricos nos quais utiliza os arcanos do tarô.
Poeta, colabora na seção de Poemas e no Fórum.
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores
Contatos: alberoni@uol.com.br |
|
|
|
|
|
|
|
Renasci estrela e nua
a pele, a de uma jovem serpente
me descobri artista
capaz de criar minha vida
Meus instrumentos:
o que penso e sinto,
palavras, imagens e pincéis
Na água me banhei
esquecida de meu reflexo
Minha amplidão
atravessou o horizonte
linha infinita do amor
|
|
|
|
|
|
|
|
|
A Estrela |
|
Aquarela de Eliane Accioly Fonseca |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Desvista sua alma dos pudores,
Dos rancores, dos amores
Que foram mal resolvidos
Mal vividos com muitas dores.
Desfaça-se desta expectativa
De esperar tanto da vida,
De querer que todos te amem
Numa terra em que muitos nem comem.
De almejar um futuro decente
Se no presente já basta ser gente.
De desejar um futuro tranquilo
Tantos só querem apenas
Estarem vivos.
Se faça nu como veio ao mundo
Terá então os sentimentos mais puros;
E agradecerá, sentindo que emerge...
Nesta era de ilusão e devaneios
De sua alma atenda
O alerta, o apelo
E faça do seu corpo um simples |
|
|
|
|
|
A Estrela |
|
www.resplendentchaos.com |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Enamorei-me
Das estrelas
O que mais de
Mim posso dizer?
Todos os meus
Ritmos hoje
São estelares
Desde os meus
Rios interiores
Até meus seixos
Mais recônditos
Que me vão
Purificando
As mágoas
Naufragadas
E se me inspirando
Sonhos e visões
Inspirações
À meia noite
Do meu ser...
Enamorei-me
Das estrelas
Sou agora de
Outras terras
Sou do céu afora
E agora não me
Podem resgatar
Não estou perdido
Sou encontrado
Espalhado
Pelo espaço
Sou de vento |
|
|
|
|
|
|
Estelares... |
fevereiro.09 |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Não quero que meu dia
seja melhor que o bom dia
que desejo a todos.
Quero somente
que tenha luz e calor humano
nascente dentro de mim.
O resto, o próprio dia
me dará como sempre acontece
a quem confia.
Só quero da esperança
um traço bem escrito
na areia da praia.
A imagem
cria
um momento/eterno.
As ondas do mar
o apagam no instante correto,
e nossa vida pela vida criada,
saúda o Sol nascente
como se nossa alma renascesse...
|
|
|
|
|
|
A Estrela |
|
Tarot de Robert Place |
|
|
|
|
a cada instante! |
setembro.07 |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
No jardim silencioso,
protegida pelo céu,
ouço estrelas
e o cantar das águas.
Eterno caminho entre elas eu sou,
e confio. |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Quase uma deusa,
nada retém.
Flui seus dons,
para todos os seres. |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
_____________ |
|
Poemas para A Lua |
|
_____________ |
|
|
|
|
|
|
|
Na Lua Nova
dormi o sono da morte
morei no Vale dos Reis
Sonâmbula
vaguei milênios
Outra noite caiu
e a Lua Nova se fez
Foi ela quem conjurou o cão
e trancou meu dedo
entre as mandíbulas
Um homem, presença e canto
me acalma e espanta a besta
O hiato entre as escalas musicais
me chama e acorda,
venho despertando
Pouco a pouco largo
o Vale dos Reis
e o Mundo da Lua
Troco
o sono por vigília
vivo entre mulheres
e homens de boa vontade,
Vivo outros milênios
bem outros
Por hora oro e vigio,
renasço a cada lua,
Às feras
já não as temo
como temia
Incerta
Incerta na Lua Nova
Lua Minguante fui
minguei minguei
me tornei partícula
invisível a olho nu
Mínima célula ridícula
sub humana
e nem guardei em mim
o universo
Outros milênios
até me descobrir
mortal
Sendo mortal
perdi o medo
do infinito |
|
|
|
|
|
A Lua |
|
Aquarela de Eliane Accioly Fonseca |
|
|
|
|
|
|
|
|
Amor intenso
para uma Lua brilhante |
|
|
|
|
|
É bom que seja assim, Lua, que não percebas.
Voz e noite constante tuas perdas.
E sozinha suponho ser brilhante
Essa voz importante em que me vejas.
Da distância, Lua, já não temas.
Eu jamais pediria tuas cenas.
E meu ouvido escutaria tua tristeza
Para o sumo do teu pranto ser nobreza.
Porque é melhor sonhar tua beleza
E sorver, reconquistar minha certeza.
Pensando bem, Lua
É bom que seja assim, que não percebas.
E o amor do amanhã seja riqueza:
A cada noite, eu menina, vou preparando
Um aroma desse licor em tua mesa.
E o verso em cada noite vai falando
Se fazendo de tua sábia alteza.
Porque tu sabes que é de poesia
Que minha vida te deseja.
Tu sabes, Lua, que à distância
sigo te observando,
Pois antes de ser mulher sou incerteza.
E que o meu corpo existe porque me deixas
E sempre existiu orando, Lua, e tu não beijas.
Ainda que tu me vejas um instante |
|
|
|
|
|
|
Que um gole de Cassis em ti esteja. |
setembro.08 |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Antes que as rugas
que a idade me trouxe
se transformem em rusgas
por uma vida percorrida
de maneira incompleta...
lançarei meu laço
e envolverei a mim mesmo
para me entender.
Percebo
que não apenas eu
está envolto pelo laço
e que partes de você me penetram
na pele e não deixo soltar.
Largo o laço mais adiante
e o queimo com certo ânimo
e atenção.
Nada se formará mais por aqui,
deixarei os sentimentos soltos
deixarei a luz desta lua
me alimentar
deixarei meus passos seguirem
a mesma trilha ... sem pensar.
E as rugas ... Que rugas?
Criança alegre a brincar |
|
|
|
|
|
|
não tem rugas para se preocupar! |
março.07 |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
O poder dos instintos,
protege e alimenta,
a vida terrestre
e deixa transparentes
as carências da alma. |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Noite sem Lua
mas não escura
neste canto onde adormeço
após o dia e seu cansaço.
Parecem triviais estas palavras
mas não quero mais que isto:
um espaço pequeno
para plantar e colher
uma rede para balançar
a musa, um livro
uma flor para ofertar.
Nada mais que isto
eu quero nesta noite quase escura.
O resto, o resto de tudo
o resto desta vida que é tão pequeno
bem além deste canto recanto
onde medito e profundamente vejo ...
Passem ao largo! |
|
|
|
|
|
|
Deixem para amanhã! |
abril.06 |
|
|
|
|
|
|
|
|
_____________ |
|
Poemas para O Sol |
|
_____________ |
|
|
|
|
|
|
|
Casamento alquímico:
Nós e o Mundo,
o Outro e Eu
A Luz dourada nos ilumina
cor e amor
puro calor
Em minha jornada
descanso no Deus Interior
sua luz amarela me ampara,
repouso em suas mãos
em seu regaço Sou
(No Vale dos Reis
posso adivinhar – terei
outras luas novas –
Mas, após desse noviciado
sonâmbula não mais serei
E as feras se amansarão) |
|
|
|
|
|
A Luz |
|
Aquarela de eliane Accioly Fonseca |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Quando a fresta se abrir
eu sairei correndo como um vento forte
e não serei mais encontrado.
Serei poeira na estrada.
Não mais o que faço
e o que pretendo fazer. Esta angústia
de algo a terminar
sem se decidir.
Irei de mãos dadas com o destino
e a cor da Lua Branca vai iluminar os meus passos.
Vou procurar
a alegria
|
|
|
|
|
|
BPAL
Tarot Deck |
|
www.flickr.com |
|
|
|
|
|
|
|
|
Fraternidade
(para Alberoni) |
|
|
|
|
|
Quando nasci meu pai adoeceu,
quando nasceu meu irmão, meu pai renasceu.
Demorei muito para entender
o contraste de nossas vidas.
Sou o último dos primeiros sete,
ele o primeiro dos últimos sete.
Nos nossos grupos de estudos representava
o bisturi que lancetava o tumor,
meu irmão era o curativo
que cicatrizava a alma.
Sou o Atanor onde se queima a Grande Obra,
Ele, o elixir da vida,
panacéia das dores do mundo.
Suas poesias são um oceano,
em cujo seio a imaginação se libera,
na escrita sou um pântano,
que poucos atravessam.
Busco na mente a chave dos mistérios,
Ele acessa a sabedoria
pela via amorosa.
Meu irmão, é uma grande árvore,
em sua sombra se refazem os viajantes cansados.
Sou um cacto, alucinogênico,
que impele as pessoas à morte do eu pessoal.
Um úmido, outro seco.
Posição variável, dependendo do grupo.
No meio poético ele é a Luz e eu a Sombra,
a parte oculta do iceberg.
Em outras plagas os papeis se invertem,
ele é o Nagual, sou Tonal.
Juntos formamos um todo.
Somos princípio e fim da nossa família.
O fim de um é princípio do outro.
Quem o conhece,
pressente minha presença,
quem me conhece,
reconhece a força velada.
Não se iludam,
somos puro mistério.
Não se acomodem, |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Abertura e simplicidade,
afetos às claras.
Nada por ocultar
aos olhos da consciência. |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
__________ |
|
Poemas para O Julgamento |
|
__________ |
|
|
|
|
|
|
|
|
A arte de escrever se relaciona ao arcano 20. O Julgamento: a pessoa se antepõe de maneira até drástica frente aos seus bloqueios, aos seus problemas, pois o simples fato de tentar explicar o mundo os confronta constanemente.
A poesia tem a ver com o arcano 19. Sol − da nossa essência − que vem através do rítmo. Há uma interessante relação entre os dois (Julgamento e Sol) que não cabe aqui explicar. De qualquer modo quem atinge o 19, assume o próprio destino.
Confuso tudo isso? Pois é, com poema seria mais claro, pois atingiria a alma (10. Roda da Fortuna), sem |
|
|
|
|
|
|
necessidade de explicações (20. Julgamento). |
março.07 |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Ao abrir a porta
só vai encontrar mistério.
Talvez um castelo dos sonhos
com seu urso de pelúcia e o som
da música barroca
que sempre lhe foi tão cara!
Quem sabe, no entanto...
Quem sabe no entanto
aquela face medonha
gritando haikais, enlouquecida,
logo após a porta
sabendo, medrosamente sabendo,
que já não pode voltar!
E talvez,
simplesmente
nada.
Apenas o escuro esquisito
simplório, tolo, absurdo
como um suspiro aliviado,
que desaparece
com o acender da luz... |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
____________ |
|
Poemas para O Mundo |
|
____________ |
|
|
|
|
|
|
|
|
A minha Casa é guardiã do meu Mundo
E protetora das minhas quatro ardências
E transmuta em anjo, águia, touro e leão.
A minha Casa se faz ouro e ausência
Para dissolver a pedra de quem lamenta.
A minha Casa continua te amando
E manda que eu te conte da tua existência
À uma mulher que dança encarnada
E que é versão, múltipla, paciência alada.
A minha Casa move o Sol e suas cadências
Toda, inteiramente, transcendência
Porque te ama de toda consciência
Para que encontres aqui tua influência
E deter por um instante tua impermanência.
A minha Casa tem pés para mover-te dos confins
Essa que te convida a uma jiga sem fim
E executa a cada passo uma esperança
Outro movimento, mais outro alegre em mim.
A minha Casa revela a filiação do Mundo
Em meu tempo maduro, sagrado e rubro
E por isso, amor, desde sempre transfigurado em ti. |
|
|
|
|
|
The World |
|
www.robinwood.com |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Deixei o meu coração
na beira do rio, protegido por pedras
e por um pássaro brilhante.
Não poderia levá-lo na viagem de barco
rumo ao desconhecido,
por receio das náiades entre as pedras
e da água chamando meu corpo -
as margens sombrias com as plantas
que me tocavam e suas folhas lustrosas...
Medo do luar frio das noites pesadas.
Não contava com a limpidez das águas
e do cantar do pássaro pernalta
que acompanhou o meu percurso,
como alegre companheiro.
Nada me disseram das pessoas
dos rios oferecendo alimentos
ou dos devas buscando conversas á meia luz
e seus cocares e seus colares
trêmulos
ao vento disperso e rico!
Voltei muito ao longe e bem tarde:
as pedras sumiram
meu presente a Terra recolheu
em seu ventre
para proteger como mãe assombrosa....
E vi meu coração para além do rio,
perambulando nos olhos dos peregrinos
no meio do mato, cantando poemas,
brincando com os que tornam sua vida
como algo doce para ser vivido!
Eu me vi caminhar calmamente
entre as patas dos animais
e no riso das crianças,
eu me vi nesta encruzilhada |
|
|
|
|
|
|
sem fronteiras ... e pleno. |
setembro.05 |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Minha visão é melhor
pois não percebo
os pensamentos.
Eu os vejo.
E tudo me aparece
como um quadro vivo,
que descrevo
com certa nitidez.
− Queres ajuda
por tudo que passas,
sem compreender?
Silencie
seus pensamentos.
Adormeça um pouco,
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|