A exemplo da capa da revista The Economist, na edição de dezembro de 2016, que usou o tarot para ilustrar as previsões para o ano de 2017 (Planeta Trump: Previsões para o Mundo em 2017 – veja o artigo), a revista Piauí no seu número 190, de julho de 2022, apropriou-se de duas cartas de Tarot (O Mago e O Eremita) numa charge elaborada por Caio Borges, ilustrando um possível telefonema do Presidente ao então Ministro da Educação.
Como as cartas do Tarot se prestam a leituras diversas, com conotações diferentes, poderíamos fazer uma, duas ou mais releituras da capa da referida edição, como por exemplo, de modo mais jocoso, insinuando a análise do cenário das próximas eleições, qual seja:
"Vidente", o superpresidente, seguro e feliz:
Eu já tenho os 4 elementos, estou pronto para a batalha!
(Podemos conferir esses quatro elementos na carta redesenhada: metralhadora: fogo; moto: ar; jet ski: água; insígnia da PF: terra).
"Pastor", com voz calma e aspecto recatado:
Mas não esqueça "Senhor", sem nós não haverá paraíso.
Vera Vilanova é Taróloga, Astróloga e estudiosa dos Florais de Bach,
com mais de duas décadas de experiência com consultas e cursos.
Vera atende presencialmente em Salvador (Piatã) e também via skype.
Oferece cursos individuais ou em grupos, tanto presencial quanto online.
Colaboradora no Clube do Tarô. Acesse seus artigos em: Autores no C.T.
Edição CKR - 25/07/2022
O Eremita e a Velhice
Vera Vilanova
Assim como a solidão, a velhice não é simpática, não é confortável e muito menos glamourosa; retratá-la como tal é tentar disfarçar a realidade sob o manto prateado e nebuloso da lua nova. Ninguém é novo para sempre, se quisermos viver muito precisamos aprender a envelhecer.
Todas as cartas do Tarot, sejam elas arcanos maiores ou menores, possuem várias dimensões ou camadas de interpretações. O Eremita representa a austeridade, sobriedade, concentração, prudência, iluminação e velhice (o passar do tempo).
Releitura do Eremita no Tarot inspirada na estética egípcia
e no imaginário nordestino de Pedro Índio.
Como exemplo disso, essa carta aparece no Tarot Nordestino de Pedro Índio: "Na imagem do Preto Velho (uma entidade de umbanda, espíritos que se apresentam em corpo fluídico de velhos africanos que viveram nas senzalas, majoritariamente como escravos que morreram no tronco ou de velhice, e que adoram contar as histórias do tempo do cativeiro. São divindades purificadas de antigos escravos africanos. Sábios, ternos e pacientes, dão o amor, a fé e a esperança aos "seus filhos". São entidades que tiveram, pela sua idade avançada, o poder e o segredo de viver longamente através da sua sabedoria, apesar da rudeza do cativeiro demonstram fé para suportar as amarguras da vida; consequentemente são espíritos guias de elevada sabedoria." (Andriolli Costa, em Colecionador de Sacis).
Depois de viver bastante, em alguma hora de nossa caminhada, começamos a pensar e debater mais sobre o morrer e suas mazelas do que sobre a vida e suas expectativas. Neste ponto o futuro é o presente, literal e/ou figurativamente. Como o futuro, quase sempre, foi e é empurrado para frente (quando eu me aposentar, quando "os meninos" saírem de casa, quando eu me separar etc.), precisamos agora agarrá-lo com afinco e vivê-lo da forma mais feliz e sábia que pudermos (felicidade, outra invenção da criatura).
Embora este assunto, a morte, ainda seja um grande tabu, fonte de medo e horror para maioria dos seres humanos, não dá mais repetir com segurança que a terceira idade é a melhor idade pois a pele, até do pé, já está enrugando, os ouvidos começam a nos trair ao telefone e até mesmo ao vivo, os olhos vislumbram sombras na visão periférica e, a paciência, se é que a tivemos algum dia encurta-se a cada tentativa de diálogo...descobrimos finalmente a tão falada terceira idade, a famosa terceira idade que é a melhor idade para...
Analisando a vida em termos de faixa etária, uma das formas de categorizá-la em 2022 (quando já existem muitas teorias e experiências relacionadas a uma vida infinita) é: de zero a 40 anos o homem está sofregamente ladeira acima perseguindo seus objetivos e conquistas; dos 40 aos 58/59 o ser humano continua ladeira acima, porém num ritmo mais contínuo e lento - é hora de buscar aqueles objetivos e metas que ficaram até agora em segundo plano por alguma razão prática ou emocional.
Entre 58 e 66 anos, as pessoas vivem um estágio de platô, no qual busca-se estabilizar a vida com certo conforto e segurança, preparando-se consciente ou apenas intuitivamente para usufruir "as delícias" da terceira idade, que chega para a maioria das pessoas aos 70 anos, ou um pouquinho antes (quando se atinge à aposentadoria e uma mudança de rotina), dependendo da forma como revisamos nossos valores aos 58/66 anos e estabelecemos objetivos para a nossa velhice, momento em que temos uma nova chance de assumirmos a responsabilidade de quem realmente somos e o que ainda queremos atingir na vida.
Num mundo politicamente correto o slogan da terceira idade definido como "a melhor idade" pegou bem pois além de valorizar uma faixa do público quase sempre invisível para sociedade permitiu, ao mesmo tempo, que os millennials e a geração Z das redes sociais pudessem, de uma forma elegante, aplacar e consolar a culpa por desvalorizar e "às vezes deixar num canto" as pessoas idosas, muitas vezes consideradas chatas e sem noção.
O fato é que se vivermos muito, como é o desejo universal do ser humano, necessariamente experimentaremos a terceira idade e a necessidade de encararmos nossa velhice com sobriedade e coragem que a idade exige e permite. A natureza é sempre sábia, pois por mais que queiramos viver para sempre, em algum momento ela começa a nos deteriorar, indicando que é hora de largarmos os bens e valores terrenos para embarcarmos no expresso 2222. Não importa os tratamentos médicos e estéticos feitos, uma boa alimentação regular, uma vida sem vícios, caminhadas e corridas, pois ela, nossa companheira fiel estará presente, e nos alcançará na estação final do percurso-vida, como bem definiu Gilberto Gil na sua música Expresso 2222:
E é nesse percurso, "na terra-mãe concebida de vento, de fogo, de água e sal, de água e sal, de água e sal, ô, menina, de água e sal" que a terceira idade, uma fase da vida normalmente de canseira, enfado e limitações nos revelará que ela está longe de ser a melhor idade, só se for para... para...
Vera Vilanova é Taróloga, Astróloga e estudiosa dos Florais de Bach,
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Edição CKR - 1º/05/2022
Como é gostoso brincar de Tarot
Vera Vilanova
Neste carnaval de 2022, que não foi festejado por conta da COVID19, recebi o convite inusitado de um grupo de mulheres que desejavam curtir a "festa" almoçando juntas, relembrando "outros" carnavais. Me propuseram ficar com seus filhos, que tinham entre 7 e 11 anos, iniciando-os na arte e riqueza do Tarot de uma maneira lúdica, sem nenhuma pressão ou qualquer processo interpretativo padrão.
Fiquei maravilhada: que experiência nova e interessante! Mas como tudo tem seu lado desafiador, ao me deparar com o planejamento dessa tarde de brincadeiras tarológicas, minhas ideias, todas, resolveram fugir. Meu Deus, e agora?! Já não dava para desistir, era preciso botar o "tico, teco" para funcionar espontaneamente ou na marra.
Embora eu seja uma pessoa avessa a tecnologia social (não adotei serviços como Facebook, Instagram, Celular, WhatsApp, Twitter e, muitas vezes, do próprio Google), leio muito e sou muito bem informada.
Pessoalmente, sou contra a demanda criada para levar as pessoas ao uso generalizado e indiscriminado de aparelhos e aplicativos supérfluos e viciantes, onde os algoritmos nos levam para lugares que não gostamos e nos trazem mais informações sobre nós do que queremos. Isto para não entrar nas questões mais graves geradas pelas fake news.
Todavia, não vivo numa ilha de desinformação: disponho de um laptop e um telefone fixo (ainda existe) que me conecta perfeitamente com o mundo quando isso se faz necessário. E quando quero me isolar totalmente coloco a culpa nas deficiências da operadora. E foi usando o wifi que pesquisei na internet o que havia de novidades sobre o uso de Tarot para crianças e como se posicionavam os meus colegas de profissão neste assunto.
Como eu ia ficar apenas três horas com um grupo de 8 meninos, optei por "trabalhar" apenas os Arcanos Maiores, usando o Tarot do Rider Waite, pelo qual meus olhos e o coração batem cadenciadamente.
Antes de iniciar a pesquisa lembrei-me de um fato vivido por mim e meu neto mais velho, quando ele tinha uns 5 anos (hoje ele já está com 15). Certo dia, tomando conta dele, abri o Tarot apenas com as 22 cartas principais, e perguntei:
— Yuri, qual dessas cartas você acha a mais bonita? Ele não titubeou e apontou A Torre.
— E depois dessa – continuei – qual é a carta que você gosta mais? Ele apontou imediatamente O Pendurado (Enforcado).
Fiquei surpresa, para não dizer invocada, com respostas tão assertivas e de cartas tão pouco benquistas, mas não perguntei mais nada a ele, nem mesmo o porquê das escolhas (vai que ele disparava na direção das cartas do Diabo, da Lua, da Morte…).
Tudo tem um porquê, eu acho. Fiquei matutando e cheguei à conclusão de que talvez A Torre, com seu exuberante raio e pessoas caindo de cabeça para baixo a céu aberto, remetesse Yuri a uma conexão com suas adoradas histórias em quadrinhos, recheadas de ação entre mocinhos e bandidos. Já O Enforcado me trouxe à lembrança o prazer que ele sentia ao ver o povo de circo no trapézio e também as bailarinas fazendo dança aérea com tecidos. E esses insighits despertaram em mim uma nova de forma de enxergar as Cartas do Tarot Tradicional, vendo-as pelos olhos de uma criança.
Voltando ao dia no qual fiquei com os garotos durante o carnaval, planejei nosso encontro da seguinte maneira:
1) Sentarmos todos em volta de uma mesa redonda (poderia ter sido no chão, mas não tenho mais idade para essas estrepolias);
2) Usar apenas os 22 Arcanos Maiores;
3) Enfeitar toda as paredes da sala, aleatoriamente, com reproduções dos 22 Arcanos (em tamanho A4);
4) Pedir aos meninos que dessem uma volta no ambiente olhando as figuras como se estivessem em um museu (podiam conversar entre si e fazerem qualquer pergunta sobre as mesmas);
5) Explicar ao grupo, no máximo em 10 minutos, a história do Tarot;
6) Baralhar e cortar os 22 Arcanos Maiores e empilhá-los no centro da mesa;
7) Informar a meninada que eu passaria o maço para cada uma delas tirar uma carta e que começaria com a primeira pessoa à minha direita, a qual retiraria uma carta sem olhar e passaria a pilha para a criança à sua direita, e assim por diante até todos terem uma carta nas mãos;
8) Recolher as cartas que sobraram e colocá-las empilhadas no meio da mesa, de cabeça para baixo.
E aí começamos, realmente, a "Brincar de Tarot".
Visando não influenciar o grupo com minha visão adulta enviesada comecei a leitura pela menina que estava do meu lado, Laura (7 anos). Ela tinha tirado A Carta do Eremita. Pedi que ela fosse até a parede da sala e trouxesse a reprodução do Eremita para a mesa.
Coloquei a foto de uma maneira que todo o grupo pudesse ver e pedi a ela que olhasse para a Carta que tinha nas mãos e me falasse quem ela via na figura, como ele era, ou qualquer outra informação que ela achasse que era importante e ela comentou:
— Poxa, que cara velho e triste. Ele vive só? Não tem mãe?
Aí Antônio falou: — Claro que ele não tem mais mãe, sua tonta, a mãe dele já virou estrela. Ele vive só, sim.
— Mais algum comentário? – perguntei e ninguém se manifestou.
Foi a vez de João (9 anos) pegar a reprodução de sua carta, que foi A Estrela.
Ele olhou e olhou para A Estrela e falou: — Acho que a mulher está feliz porque está enchendo o rio de água e a água não acaba. Olha como tudo está verde e cheio de flores.
— Pois é, comentou Ana (7 anos), tem também um passarinho e muitas estrelas. É uma carta linda!
E você, Antônio (11 anos) – perguntei – que carta tirou?
— Um menino doidinho, que está na beira de uma pedra gigante, quase caindo.
— Vá lá pegar sua foto na parede – pedi.
Os comentários foram variados:
— Ele é surdo? (por causa dos latidos do cachorro que ele parecia não ouvir).
— Ele é cego? (não olha por onde anda, olha para cima).
— Ele está com problemas? (postura alheia aos perigos).
O Louco despertou a irreverência do grupo:
— O cara vai cair de cabeça e nem vai ver;
— Que maluco mais sem noção...
— Pode ser – retrucou Antônio – mas ele parece estar tão bem, tão na dele. Gosto quando estou assim, calmo, sem pensar em nada.
Chegou a vez de Maya (8 anos). Apressadinha ela foi até a parede da sala e trouxe a figura do Mago, toda entusiasmada:
— Que carta bonita, cheia de flores, eu adoro flores.
— E o que mais você vê nesta carta Maya?
— Um menino com uma mesa cheia de brinquedos mas sem nenhum amigo para brincar. Não gosto de ficar sem ninguém, é chato. Depois as rosas têm muitos espinhos e ele não pode nem sair do jardim.
Para Ivan (10 anos) veio A Imperatriz: — E essa quem é Ivan?
— Parece minha mãe, toda arrumada, sentada num parque que tem um rio e muitas árvores. Ela vive falando em fazer um piquenique com a gente num lugar assim, mas ela nunca pode, está sempre trabalhando.
— Essa mulher parece com a mãe de mais alguém? – perguntei.
— Acho que com a minha – respondeu Laura.
— Com a minha também – emendou Antônio.
Logo após, acompanhando A Imperatriz, veio A Sacerdotisa, nas mãos de Leila (9 anos). Ela, com sua calma de sempre, sorriu e falou: — Humm, acho que tirei eu mesma. Ficar quieta, num canto, lendo um livro é o que eu mais gosto de fazer. Gosto de ler deitada, mas minha mãe reclama pois diz que faz mal para olhos.
— Quem mais gosta de ler por aqui, perguntei?
— Eu não gosto, diz de pronto Ivan, prefiro jogar no celular.
— Eu ainda não sei ler direito, fala Maya, mas gosto de ver a Magali junto com a minha irmã.
— Pois eu adoro ler tudo: as revistas da Turma da Mônica, Heróis Marvel, X Man e muitos outros livros – completa Antônio todo exibido.
Finalmente, para Paulinho (11 anos), o último menino do grupo veio A Carta do Diabo:
— Essa figura tão estranha parece meu professor de história, que vive mandando eu ficar quieto e calar à boca. Ele é um homem muito mau.
— Mas ele só reclama com você, Paulinho?
— Não, mas ele briga mais comigo porque sabe que não tenho medo dele. Muitas vezes fico é com muita raiva.
* * *
A essa altura resolvemos dar um tempo e tomar um lanche. No decorrer do lanche muitas conversas paralelas sugiram sobre os Arcanos Maiores: dúvidas, comentários, etc.
Depois de 20 minutos, voltamos para a mesa e falei:
— Lembram que começamos a brincadeira dizendo que o Tarot tem 22 cartas chamadas de Arcanos Maiores. Pois é, aqui somos 8 pessoas, sem contar comigo, portanto só vimos 8 cartas das 22 cartas principais do Tarot. A minha proposta é pegarmos as outras 14 cartas e criarmos uma estória com elas, que tal? Vamos seguir a mesma ordem de antes, isto é, vamos começar por Laura, mas todos podem sugerir outras ideias durante a apresentação.
A Temperança:
— Um anjo, muito bonito, vestido de branco e com asas vermelhas que está passeando num rio – disse Laura.
— Um anjo mágico, falou Maya, pois consegue passar água de uma taça para outra, sem derramar nenhuma gota no chão.
— Mas para a mágica acontecer ele tem que fechar os olhos e colocar toda sua força em volta de sua cabeça – completou Paulinho, dando risada de sua gracinha.
E não é que ele tinha razão sobre os olhos do anjo!?
A Força:
— Nesse lugar podemos ver também uma mulher fazendo carinho num leão, como isso é possível – perguntou João. E ele mesmo respondeu:
— Deve ser porque ela cuidou dele desde quando era um filhotinho e ele não sabe que é um leão, pensa que é um cachorro.
— Pois eu acho que não é por isso não, revidou Ivan, eu acho que é porque ela trabalha num circo e o leão foi treinado para ser mansinho e obedecer ela.
O Carro:
— Lá longe eu vejo um carro muito estranho pois não tem roda para andar, falou Paulinho. Ele está parado na porta de um castelo e dentro dele tem um rapaz fazendo de conta que está dirigindo o carro. O pai desse rapaz deve ser muito legal pois fez para ele um presente tão grande e bonito. Eu queria muito ter um carro desses.
O Sol:
— Mas falando em andar – disse Leila – eu queria mesmo era dar uma volta naquele cavalo branco que está no jardim dos girassóis, pois o bebê parece muto feliz em cima dele, sem medo nenhum de cair. E o dia está com um sol tão lindo! Eu ia gostar muito! Ia me lembrar desse dia a vida toda.
A Roda da Fortuna:
— Já eu – disse Antônio – preferia dar um passeio nesta roda gigante esquisita, que não tem cadeira e é guiada por esses bichos feios. Quem são eles? Da terra é que eles não são. Parecem monstros de filmes. Falando a verdade, eu não sei se teria coragem de ir com eles, sozinho. Só se fosse com meu pai.
O Imperador:
— É, ir com o pai da gente, é mais fácil, menos perigoso. Embora meu pai não goste muito de parque de diversão, toda vez que quero ir num brinquedo mas estou sem coragem, ele me ajuda, me dá a mão e me acalma. Ele é o meu Rei Fergus – comentou João.
— Já eu, faço tudo sozinha, sem meu pai, pois sou forte e valente igual a Princesa Merida – completou Ana toda orgulhosa de sua coragem.
A Justiça:
— Olhando esta carta (A Carta de Justiça) – falei indo pegá-la na parede – me lembro de um desenho animado que meus filhos gostavam muito de ver e que se chamava He-Man.
— He-Man era um herói cuja verdadeira identidade era o Príncipe Adam de Eternia, o qual foi roubado de seus pais pela Feiticeira do Castelo de Grayskull e o dotou com o poder de se transformar em He-Man, o menino mais poderoso da terra: era o que Adam fazia, levantando sua Espada do Poder e proclamando: "Pelo poder de Grayskull, eu tenho a força!"
— Sempre que olho A Carta da Justiça acho que a mulher vai se levantar e imitar o gesto de He-Man.
A Lua:
— Assim como Leila viu a beleza de um passeio num cavalo branco, num dia de sol, eu também vejo beleza na Carta da Lua, que enfeita o céu com sua luz mais fraca mas bonita, afirmou Maya, enquanto tirava a cópia da carta da parede. Ela me traz lembranças e saudades de minha avó que mora longe da gente, em outra cidade. Muitas vezes fiquei no colo dela conversando sobre a lua e as estrelas, ou ouvindo histórias muito lindas.
* * *
Entre o passe do Mago (mágico) e o retorno (volta) do Mundo a tarde acabou, deixando muitas perguntas no ar para serem esclarecidas pelo O Papa ou pelos colaboradores do Clube do Tarot que queiram se aventurar pelas andanças do Louco.
"Diferente de um "rio que corre", o tempo não se comporta da forma como o percebemos. Passado, presente efuturo existem simultaneamente, mas em dimensões diferentes. Esse é o fundamento por trás do conceito do "Bloco universal", defendido pelo professor Bradford Skow". [Fonte: Renato Mota, Olhar Digital]
"Em tempos em que a pandemia vai e vem do noticiário na mesma intensidade que a esperança do mundo sobre a possibilidade de ver dias melhores, é um tanto surpreendente ver conceitos mais complexos da ficção-científica ganharem maior visibilidade entre o público e atingirem de vez a tal cultura pop. Isso inclui a ideia de múltiplas realidades, uma teoria clássica da física quântica que no último ano parece ter atingido de vez o audiovisual graças a produções como Dark, Homem-Aranha no Aranhaverso, e — mais recentemente — Loki. [Fonte: Pedro Strazza, ComCiência]
Ícone da série e os atores Mel Lisboa e Seu Jorge
Foto de Bruno Poletti
Dentro desse conceito de múltiplas realidades, Paciente 63 é a nova série Original Spotify que possui 10 episódios e é protagonizada por Seu Jorge e Mel Lisboa. Paciente 63 conta a história do cliente de uma psiquiatra que jura ser um viajante do tempo e ter vindo do futuro, do ano de 2062, para evitar a hecatombe da humanidade, num mundo marcado por doenças e distanciamento entre seres humanos. O título, discreto, dá ideia apenas de algo clínico, mas é muito mais envolvente do que se pode esperar. Com episódios curtos, diálogos pontuais e bem colocados e um roteiro brilhante, isso sem falar nas atuações consistentes dos personagens.
A série se passa em outubro de 2022, num contexto em que o Brasil está se erguendo após a pandemia do Coronavírus, e acompanha os relatos de Pedro Roiter (Seu Jorge) à psiquiatra Elisa Amaral (Mel Lisboa) em sessões terapêuticas de rotina, que logo se transformam em um embate entre a realidade e o delírio, o real e o possível. Uma história que transita entre o futuro e o passado de dois personagens que podem ter nas mãos o futuro da humanidade.
Após ter sido encontrado na rua nu, com comportamento agitado e violento e ser diagnosticado com psicose paranóide, Pedro alerta Elisa que o mundo a partir do ano de 2033, se tornará um caos completo, onde mídias sociais não existem mais e um novo vírus (Pégaso) será o mais fatal de todos os tempos. Para que isso não aconteça será necessário convencer a médica de ajudá-lo a impedir tais fatos, mas a tarefa é bem mais difícil do que se imagina.
A cada capítulo, a médica questiona o paciente sobre suas afirmações absurdas; ele, por sua vez, dá respostas que a deixam em dúvida sobre o possível e o real. O viajante que se apresenta como Pedro não sabe dizer, por exemplo, quais números saíram na loteria ou quem ganhou a Copa do Mundo, mas ele tem informações muito específicas sobre Eliza e também sobre o rumo da sociedade.
Rápida, agradável, com roteiro impecável e que termina com a necessidade de uma continuação, a minissérie Paciente 63 é sem dúvidas um passatempo inteligente e bem feito, não só para os fãs de ficção, mas para quem adora ter elementos diversos para pensar em situações que às vezes, nem a gente mesmo acredita. Quem gosta de ficção científica, principalmente daquelas que fazem críticas pertinentes a sociedade a ao direcionamento da humanidade daqui para o futuro, terá em Paciente 63 uma série imperdível.
O roteiro do chileno Julio Rojas nos prende desde seus primeiros minutos. A série foi lançada originalmente na língua espanhola e, só agora, ganhou uma adaptação Brasileira.
Os 10 episódios estão disponíveis gratuitamente no Spotify:
Por que cuidar das informações dos clientes
é tão importante
Helena Farias Galvani
No desenrolar da pandemia Covid-19, constatamos o crescimento das relações via internet e redes sociais. É uma situação oportuna para voltamos a lembrar no que a Lei Geral de Proteção de Dados tem a ver com a Astrologia, com o Tarô. E por que é tão importante ter cuidado com as informações e os dados em uma consulta.
A Lei Geral de Proteção de Dados, Lei 13.709/2019, ou apenas LGPD, entrou em nosso ordenamento jurídico em 2018, com o objetivo principal de proteger o nosso direito fundamental de liberdade, privacidade e livre desenvolvimento por meio da proteção do uso de nossas informações por outrem. É o caso do nome, endereço, orientação sexual, origem étnica, convicção religiosa, opinião política, entre outras coisas que podem nos identificar e causar discriminação, exclusão e até a utilização indevida de dados para comércio e ganhos próprios, sem que a gente queira ou compactue com isso.
E o que isso tem a ver com astrologia, com o tarô? Pode parecer óbvio, afinal, que para fazer o mapa natal o astrólogo necessita um mínimo de informações: nome, o local, a hora e data do nascimento, sendo elas consideradas informações pessoais. Contudo, pode ocorrer algo grave nessa questão.
Já perdi a conta de quantas pessoas atendi e de quantas histórias ouvi...
Fonte: https://theconversation.com/global
Em 2015, quando estava procurando um(a) professor(a) para me ensinar astrologia, eu fiz uma aula experimental expositiva em que eram mostrados mapas de clientes e compartilhadas informações íntimas das pessoas. O apresentador julgava os comportamentos e formas de ser das pessoas. Eu me senti incomodada só com este fato, primeiro porque pra mim, se você é astrólogo, tarólogo, psicólogo, deve cuidar da vulnerabilidade das pessoas. Senti que o expositor ultrapassava várias linhas: a da confiança, entrega e vulnerabilidade da pessoa que lhe confidenciou seus segredos. Segundo, achei antiético usar como exemplo pessoas que ainda estão vivas e são comuns no dia a dia. E se eu conhecesse alguma delas? Saí da aula tão brava que nem me despedi: fui embora.
Bom, é possível vislumbrar o nível do problema... Como o trabalho do astrólogo é estudar a vida da pessoa e analisar seu mapa, todas asvezes o assunto tratado é sensível e pode identificar o consulente. Afinal, o astrólogo está ali para orientar o cliente em sua vida. No geral, as questões básicas dizem respeito aos filhos ou relacionamentos (questões sexuais, étnicas), relação com os pais/familiares, até mesmo tratar do emprego, futuro (pode ter um caráter filosófico), mudar de carreira, se pede aumento ou não... É tudo muito íntimo e sempre pessoal — identificável.
Por trabalhar com astrologia por 6 anos, tenho muita informação das pessoas. Das mais sensíveis que se possa imaginar; começando com o nome, data, local, hora de nascimento, até sobre religião e questões de saúde. Imagine se isso vaza ou se é compartilhado sem consentimento para fins comerciais? Ou simplesmente é compartilhado: alguém te identifica e você, além de tudo, passa por um constrangimento. É dito que "o que cai na rede é peixe" e nas redes sociais tudo é capturado e quase nunca volta para o anonimato...
Além disso, esses dados relevantes, espalhados no mundo digital, podem ser utilizadas, no mínimo, para identificar possível interesse de compra. Sabe aquelas propagandas que aparecem quando você está rolando o feed do Instagram? Pois é, isso acontece porque eles conseguem, com um algoritmo que é "inteligente" e está sempre mudando para ser cada vez mais "inteligente", ver um padrão nas suas escolhas.
Clicar, curtir e compartilhar passam para a máquina da internet o que você gosta ou acha que gosta. O sistema manipula e afunila as informações para que seja mais fácil vender o que querem. Sabe quando os antropólogos e sociólogos se perguntam se é o meio que transforma a pessoa ou a pessoa que transforma o meio? Pois é, os dois acontecem juntos e, neste meio digital, você também está se transformando.
Certa vez, eu estava rolando o feed e recebi umas três propagandas seguidas falando "você que é ariano...". Como eles sabem meu signo solar?! É claro, o Instagram é capitalista e uma das informações solicitadas por eles é a sua data de nascimento...
Precisamos levar essa questão a sério e lembrar que se trata de uma discussão importante também na área espiritual. Desde a aprovação da PEC 17/2019 temos o direito fundamental de proteção de dados pessoais, inclusive nos meios digitais,
Lembro que lá no início da minha época de curiosa sobre astrologia, eu acompanhava uma pessoa no Youtube que sempre falava sobre signos. Em um de seus vídeos, ela comentou o 'causo', de uma pessoa de confiança dela (não é mais, né) que usou as informações do mapa — compartilhados em algum momento — para se aproveitar de suas vulnerabilidades. Como ela era uma astróloga moderna, eu especulo que as informações tinham um caráter mais psicológico do que astrológico; o que também é bastante sensível, pois inclui dados de saúde.
Contudo, mesmo a astrologia tradicional, que reflete mais a espiritualidade, o destino e a filosofia da nossa existência, também trata de assuntos muito pessoais.
Como uma simples consulta pode guardar tantas informações sobre você?
Em uma consulta eu tenho informações de momentos relevantes da vida do cliente, como casamentos, nascimento de filhos, viagens, formaturas, cirurgias, dores; sobre orientação sexual, medos, etc.; e em um mundo no qual há muitos relacionamentos que podem ser abusivos — marido, amiga, tio, mãe, etc. — informações íntimas são um prato cheio.
O nível de responsabilidade é gigante! E nem você, nem eu, podemos ignorar o potencial de uma informação. Ela pode ser usada para orientar campanhas políticas personalizadas, dependendo da pessoa que os políticos buscam, por meio de informações alteradas, compartilhando meias verdades ou até mentiras deslavadas.
A saída para isso é a LGPD, que nos protege e também auxilia o astrólogo, tarólogo a lidar com estas informações. Primeiro, para tratar qualquer dado é preciso consentimento do cliente, que precisa apresentar isto de forma escrita, ou, caso necessário, uma legislação que exija compartilhamento é também respaldo para o astrólogo (e para o cliente). Outra exigência é a transparência, para que o cliente saiba o que está sendo feito com os dados coletados. E o astrólogo precisa utilizar apenas as informações necessárias para realizar o trabalho, sempre prezando pela segurança da informação.
Eu mesma já instaurei as diretrizes da LGPD nos meus atendimentos: de tempos em tempos deleto as informações que são guardadas em um lugar específico, onde apenas eu tenho acesso; também não compartilho com outras pessoas os dados e as histórias de pessoas, a não ser que seja expressamente permitido (consentimento é tudo) e utilizo publicamente exemplos de pessoas que já falecerem há tempo, cujas histórias são bastante conhecidas e divulgadas, como a da Princesa Diana ou do David Bowie.
Que continuemos a defender o direito de proteção dos dados pessoais.
Bibliografia: O Filtro Invisível: O que a Internet está Escondendo de Você, Eli Parisier Privacidade é Poder, Carissa Véliz
Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), Lei Nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Proposta de Emenda à Constituição 17/2019.
Sob Pressão - a besta avança pelos corredores,
num jogo de azar ou sorte
Vera vilanova
Sob pressão, música gravada por Gilberto Gil e Chico Buarque, em agosto de 2020, em plena pandemia de COVID-19, é uma composição de Gil em parceria com o poeta moçambicano Ruy Guerra, que retrata com emoção o período da crise do Coronavírus. A música foi composta a convite do diretor Andrucha Waddington como tema para a temporada especial da série de televisão brasileira Sob Pressão, transmitida pela Rede Globo.
Nela Ruy Guerra fala da falta de ar e dos temores dos pacientes, da coragem e do combate ao vírus pelos profissionais de saúde, citando também o jogo político frequente entre os Poderes do País, os quais, segundo a canção, "são tontos que blefam com a morte, num jogo de verdades e mentiras ". A música passeia entre a ciência e o culto dos orixás, a fantasia e razão, a resiliência e a esperança do povo brasileiro e retrata, também, a pressão que sofremos para sobreviver ao negacionismo, à falta de coordenação nacional no combate à pandemia que ceifa vidas, à falta de um governo à altura das necessidades do País.
O gênero da música "transita pela seara nordestina (...) para se embrenhar na terra musical do baião e da toada". Em seu blog hospedado no portal de notícias G1, o jornalista e crítico musical Mauro Ferreira afirmou que "passada a epidemia, a música ficará como registro histórico (...) desse momento singular da humanidade".
A música está para a vida tanto quanto a ciência para a superação da pandemia.Sob Pressão é um retrato musical da pandemia de Covid-19, que tem o Brasil como um dos países mais afetados por essa crise mundial. A letra é forte e contém críticas à parcela da população que desacredita da gravidade da pandemia .
O clipe foi dirigido por Andrucha Waddington e Pedro Waddington. Confira:
Compositores: Gilberto Gil e Ruy Guerra
Apresentação: Gilberto Gil e Chico Buarque
Falta de ar nos gemidos dos ais
A febre, seus fantasmas, seus terrores
Sem pressa, passo a passo, mais e mais
A besta avança pelos corredores
O médico caminha com cautela
Estuda as artimanhas do inimigo
A enfermeira brava vence o medo
Pouco lhe importa a extensão do perigo
O mundo está azaranza, ao Deus dará
O povo não se entrega é cabra cega
É lá e cá sem lei, sem mais aviso
Só sei que é preciso acreditar
Fazemos todos parte desta história
Mesmo que os tontos blefem com a morte
Num jogo de verdades e mentiras
Um jogo duplo de azar e sorte
A ciência abre as suas asas
A esperança à frente como um guia
Com São João na reza, a pajelança
A intervenção de Xangô na magia
Neste canto aqui da poesia
Casa da fantasia e da razão
Abre-se a porta e entra um novo dia
Pela janela adentro um coração
A voz de um barco à bordo da alvorada
O sol da aurora secando o pulmão
Ano passado se eu morri na estrada
Vai que esse ano não morro mais não
É pra montar no lombo da toada
Desembarcar do trem da pandemia
É pra fazer da rima arredondada
O rompante final de uma alegria
Vamos em frente amigo, vamos embora
Vamos tomar aquela talagada
Vamos cantar que a vida e só agora
E se eu cantar amigo a vida é nada