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21 de dezembro de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


Um centenário funesto: a Primeira Guerra Mundial
Rui Sá Silva Barros
Historiador e Astrólogo
Essa não foi mais uma guerra numa longa lista, pois ela inaugurou a era da vida humana descartável: centenas de milhares morreram na guerra de trincheiras por um palmo de terra, populações civis indefesas foram bombardeadas e a guerra química teve início. Além disto, foi com surpresa que verificamos que milhões marcharam para a matança sem protestos ou deserções, enquanto intelectuais importantes saudavam o início de uma era de heroísmo e os partidos socialistas (supostos internacionalistas) votavam os créditos de guerra. Há aspectos geopolíticos e econômicos nesta guerra, mas o problema da mentalidade predomina com as várias proclamações da morte de Deus no século XIX, a moral utilitária, a sobrevivência dos mais fortes etc.
Com a desintegração do Império Otomano no final do século XIX, os austríacos anexaram os territórios da Eslovênia e Bósnia, reivindicados pelos sérvios. Abaixo o mapa que sinaliza o estopim do conflito, o assassinato do herdeiro ao trono Habsburgo (austríaco) por um nacionalista sérvio:
Mapa Sarajevo -28/06/1914
Mapa do estopim da Primeira Guerra Mundial - 1914
Calculado para Sarajevo (Bósnia) - 28 de junho de 1914, às 12 horas
Chamam atenção imediatamente os stelliuns: Júpiter fizera conjunção com Urano, em Aquário, meses antes (o que sinaliza o uso de aviação nos combates) e oito planetas estão num arco de 70 graus. O Ascendente está num signo (Libra) de declaração de guerra, seu regente Vênus em oposição a Urano. Marte acabara de passar pela estrela Regulus, Saturno, que estava próximo à Capela, ia de encontro a Plutão que estava em conjunção com o Sol. Júpiter estava em trino a Saturno, o que não impediu a escalada do conflito. Lua e Marte na entrada da casa 12 sinalizavam o atentado em público, a acentuação em Câncer a eclosão do nacionalismo. A Áustria pediu satisfações à Sérvia e participação nas investigações, o que foi negado.
Um mês depois o Império declarou guerra, o Sol estava em conjunção a Vênus (Leão). Os russos, aliados dos sérvios, deslocaram tropas para a fronteira, os alemães hipotecaram apoio aos austríacos e em seguida invadiram a Bélgica e França. Dia 4 de agosto os ingleses declararam guerra, a Europa inteira estava envolvida e o Oriente Médio também, pois o moribundo Império Otomano resolveu apoiar os alemães e austríacos. Dia 21 de agosto ocorreu um eclipse solar em conjunção a Marte/Regulus do mapa do estopim.
Nenhum governo estava preparado para a duração da guerra que avaliavam breve. Somente em 1917, com a conjunção Saturno/Netuno em Leão, próxima à Vênus do mapa inicial, ocorreu uma mudança decisiva com a entrada dos EUA e a saída dos russos depois da revolução bolchevique. O final da guerra (11/1918) ocorreu com Saturno em conjunção a Regulus, trino a Marte em Sagitário e este em oposição a Saturno inicial, Urano alcançara a posição inicial de Júpiter que agora estava retrogrado em Câncer perto de Sirius e em trino ao Sol em Escorpião.
As consequências
A guerra agravou todos os problemas prévios, o Antigo Regime ruiu finalmente (monarquias absolutistas ou quase: alemães, austro-húngaros, russos e otomanos), mas os novos estados criados eram instáveis e caíram em ditaduras rapidamente (Polônia, Hungria, Romênia, Itália, Turquia, Portugal). A revolução bolchevique que começou com um sonho igualitário transformou-se num pesadelo totalitário em anos. A Alemanha foi condenada a pagar indenizações exorbitantes, o que gerou hiperinflação e um ressentimento permanente. Os atuais problemas no Oriente Médio têm raízes neste tempo quando os ingleses descumpriram as promessas feitas aos árabes.
Máscaras contra gases na Guerra de 1914-18
Máscaras contra gases na Guerra de 1914-18
A guerra matou mais de 9 milhões de pessoas e uma quantidade maior de feridos e inválidos, a gripe espanhola ceifou mais alguns milhões. Ela foi percebida na época como o fim de uma era, o que foi registrado pelos literatos numa sucessão de obras-primas: Proust, Kafka, o Ulisses de Joyce, A montanha mágica de T. Mann, os impressionantes poemas de T. S. Eliot e W. B. Yeats. A frenética vida em NY, Paris e Berlim durante os loucos anos 20 anunciava o agravar da crise, bem como as obras-primas do cinema mudo alemão que já antecipavam o nazismo. A guerra trouxe os EUA para o primeiro plano, o país se tornou um exportador de capital, enquanto os britânicos e franceses saíram dela depauperados e com a nata da juventude morta nas trincheiras.
Muitos historiadores viram a Segunda Guerra como continuação da Primeira e escreveram sobre a Guerra dos Trinta Anos moderna (1914/45). Ela sepultou a inocente ideia de progresso continuado e pacífico fomentado no século XIX. Este período criou também uma aliança entre Estado - pesquisa científica - indústria militar que perdura e produziu armas de destruição em massa. Com a guerra a violência e a morte finalmente ingressaram na psicanálise, os textos freudianos a partir de 1920 revelam um acento trágico.
O cristianismo se saiu muito mal neste conflito, o nacionalismo triunfou sobre o sentimento religioso e padres e ministros reformados abençoaram exércitos. A guerra envolveu nações cristãs com exceção do Império otomano, islâmico. Depois da guerra os intelectuais cristãos continuaram a escrever sobre teologia moral como se nada tivesse acontecido e ficaram totalmente despreparados para a carnificina da Segunda e o Holocausto. As diversas organizações Rosa Cruzes, as herméticas, a Sociedade Teosófica, o movimento espírita, nenhuma antecipou minimamente o que estava por acontecer e tampouco refletiram posteriormente.
Problemas astrológicos
Os tratados de Morin e Lully datam do século XVII, a astrologia continuou a ser praticada, mas durante 200 anos não houve nenhuma publicação importante. Mesmo um fenômeno como a Revolução francesa passou em brancas nuvens nos meios astrológicos. Ela e a revolução industrial iriam produzir modificações profundas na organização do mundo humano. Somente no final do século XIX começam a sair livros, especialmente por Sepharial e Alan Leo na Inglaterra. Quando estourou a Guerra todos foram pegos de surpresa e não tinham os instrumentos conceituais que lhes permitissem acompanhar a ação. Apelaram para os velhos instrumentos: ingressos solares, lunações, eclipses, mapas natais de países e impérios envolvidos e até mesmo mapas dos soberanos e políticos.
Tudo isto depende da localização geográfica e a guerra foi disseminada, cobrindo vasto território, portanto a aplicação destes instrumentos só podia dar resultados parciais. O mesmo pode ser dito de trânsitos e progressões sobre o mapa natal de cada estado envolvido. O problema é que a guerra em essência foi entre dois blocos: Inglaterra, França, Rússia, Itália e no final EUA de um lado, e no outro Alemanha, Áustria, Otomanos e Bulgária. Em resumo seria necessário ter o mapa dos dois blocos, mas mesmo isto é problemático: a Itália estava compromissada com a Alemanha, ficou neutra no início e depois tomou o lado dos Aliados. Sepharial chegou a prever o final da guerra para 1917, errou, mas este ano foi decisivo para romper a imobilidade nas trincheiras entre França e Alemanha.
André Barbault, que teve o desprazer de ver seu irmão prever a não eclosão da guerra em 1939, trabalhou intensamente para obter um instrumento mais adequado nestas situações que envolvem vários atores simultaneamente. Fez uma crítica pormenorizada dos trabalhos astrológicos das décadas de 1920 e 30 em Astrologia Mundial (1979), apresentando em contraposição um gráfico que mede as distâncias entre os cinco planetas lentos, as curvas para cima significam espalhamento e para baixo, proximidade.
Gráfico do espalhamento e proximdiade dos planetas lentos
Gráfico do espalhamento e proximdiade dos planetas lentos, de 1900 a 2000
Vê-se imediatamente que a proximidade dos planetas coincide com crises, guerras e turbulências. O princípio é perfeitamente ortodoxo, desde a Antiguidade os stelliuns eram temidos e a tríplice conjunção de Marte, Júpiter e Saturno mais ainda. É uma informação valiosa, sem dúvida, mas nada diz sobre a região ou aspectos da crise, isto precisa de um novo tratamento, astrológico e conceitual. O mapa do assassinato que foi o estopim da guerra responde razoavelmente bem a algumas questões, mas é preciso um esforço enorme de imaginação para ver aí uma guerra generalizada. O que há de novo nesta configuração que justifique o tremendo evento? As conjunções Netuno/Plutão ocorrem a cada 480 anos. A última ocorreu em 1891, no início de Gêmeos, o que havia de novo é que Saturno passou pela primeira vez no ponto da conjunção e dirigia-se a Plutão para a primeira conjunção depois de 1891. Se tomarmos a conjunção de 1399, também em Gêmeos, verificamos que Saturno ao cruzar pela primeira vez Plutão e Netuno trouxe o desembarque português em Ceuta e a criação da Escola de Sagres, não uma guerra, mas o início de uma expansão geográfica notável. Isto é material para pesquisas.
Os últimos dois meses
A Ucrânia vive tempos turbulentos com Netuno em oposição ao Sol natal (24/08/1991) e este em progressão está conjunto a Marte. A atabalhoada transição no fim da era soviética deu lugar a um punhado de novos milionários que levaram empresas estatais por preços de ocasião. E eles estão lá no poder seja qual for o partido que governe.
Manifestação em Kiev
Manifestante em Kiev
 
A revolução laranja (2004) instalou um governo pró-ocidente, mas era tão corrupto que acabou derrubado pelo atual pró-russo, também corrupto. Apesar de ser uma potência agrícola e ter uma indústria diversificada, o país anda com problemas de inflação e baixas reservas, sua energia é importada da Rússia que não pode tolerar a presença de estrangeiros num país que dá acesso ao Mar Negro. Metade da população apoia uma aproximação com a União Europeia e a metade ao leste prefere os russos. Os protestos recentes estão sendo mantidos especialmente com o apoio do partido Liberdade, xenófobo e antiliberal, enfrentando frio rigoroso e rejeitando todas as propostas do atual governo.
O exército pediu o fim do caos e a desocupação imediata dos prédios públicos. Líderes da oposição reuniram-se com J. Kerry na Alemanha, os dirigentes russos uivaram. Analistas começam a crer em guerra civil e uns poucos em divisão territorial.
No Oriente Médio a novidade é a presença importante de organizações jihadistas na Síria e também no Iraque onde controlam duas cidades. No Egito, a Irmandade foi declarada fora da lei e os atentados já começaram. O Irã deu um passo adiante e apresentou-se em Davos anunciando a abertura de negócios petrolíferos para grande irritação dos israelenses. O governo turco foi surpreendido por uma vaga de denúncias de corrupção envolvendo ministros e familiares, enquanto sua moeda se desvaloriza e os juros estão na Lua. O Oriente Médio é outra região aonde vai ficando inútil acompanhar a situação através de mapas de países tal é a imbricação de influências. Os sauditas financiam os jihadistas e o governo egípcio, os israelenses agora trocam favores e informações com os sauditas, o governo de Assad depende do apoio iraniano que interfere no Líbano através do Hizbollah. Os curdos se organizam no Iraque, Irã, Turquia e Síria. E por aí vai.
Na China o governo abriu uma campanha contra a corrupção e pouco depois foi noticiado que milionários chineses remeteram mais de um trilhão de dólares aos paraísos fiscais nos últimos anos. Entre os milionários muitos parentes dos dirigentes que resolveram tomar o slogan de mestre Deng (enriquecer é glorioso) ao pé da letra. Causa preocupação também a extensão do sistema bancário paralelo e a dívidas provinciais. Na Índia, inflação e déficit externos pressionam o câmbio e elevam os juros. Estupro coletivo de mulheres parece estar se tornando um esporte nacional, sintoma da corrosão moral em ação. Uma greve geral no Camboja mostra que trabalho barato vai escasseando na Ásia, na Indonésia e Filipinas ainda se encontra. Na Tailândia manifestações contra o governo estão maciças e perduram por semanas. As multinacionais ainda não se mudaram para África por medo das cleptocracias governantes.
A Argentina infelizmente segue o itinerário funesto e facilmente previsível: exportações de cereais e carnes em alta deram em impostos e subsídios nos transportes e energia. Os preços caíram, a balança comercial minguou, as reservas em dólares idem, mas os subsídios continuaram. Resultado: inflação, tabelamento de preços, seleção de importados, depreciação do peso, restrição ao acesso de dólares etc. O gado está confinado e a qualidade da carne já não é a mesma, os agricultores chiam contra os impostos e os sindicatos dos trabalhadores contra os preços no varejo. E o país não consegue tomar empréstimos no exterior depois do último default (2001). Isto nos afeta um tico, nossas exportações para lá diminuem pressionando nossa balança comercial já deteriorada.
No Brasil, com Saturno no Meio Céu e com o Sol atravessando a casa 12, a violência escancarou geral: nos presídios, ônibus queimados, manifestações e reações policiais violentas. E tudo isto com a taxa de desemprego lá embaixo! Pilhas de artigos sobre os rolezinhos, no início nada de protesto social ou político, ao contrário, atos de reverência ao consumo nestas modernas catedrais que são os shoppings centers. Depois das reações policiais e de seguranças, das liminares proibindo a entrada, é possível que a coisa se politize. Os governos no Brasil são totalmente desastrados. Mais sobre o país na próxima crônica com o mapa do ingresso do Sol em Áries.
 
Rolezinho em São Paulo
Rolezinho em São Paulo
foto de Hugo Uchôa
O BC americano (FED) cortou mais 10 bilhões nos estímulos monetários, pela segunda vez e anunciado com antecedência. Tremores nos mercados cambiais mundo afora e elevação de juros em muitos lugares para tentar reter dólares. Reação completamente desproporcional,  vez  que a intenção foi declarada em maio do ano passado. Isto é sinal claro de um desajuste mais profundo do que se vê, há preocupações com a economia chinesa também. Penso que a cruz no céu em abril pode sinalizar uma turbulência forte, na realidade os problemas econômicos gerados em 2007 estão contidos, mas não encaminhados.
O liberalismo naufragou sob o stellium de 1914, ressurgiu com o grande de 1982/3 e teve sua primeira crise com a descida forte no gráfico a partir de 2007. O neoliberalismo carrega a marca da falsidade, pois calcado em um punhado de monopólios e oligopólios contraria totalmente a concorrência que esteve na base da teoria clássica do liberalismo econômico. Os remédios ativados para resolver a atual crise só levaram a mais concentração de patrimônio e renda. O relatório da Oxfam para o encontro anual em Davos não deixa dúvidas: as 85 pessoas mais ricas do planeta têm um patrimônio maior que 3,5 bilhões de pessoas. Agora o gráfico de Barbault sobe até 2020, os problemas continuam aí, mas o clima será mais favorável para negociações. Em 2020 há uma queda abrupta na curva. Este começo de ano foi bem agitado e aqui no Sudeste terrivelmente quente e seco.
Contato com o autor:
Rui Sá Silva Barros é historiador, astrólogo e
estudioso da Cabala: rui.ssbarros@uol.com.br
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores
Edição: CKR – 3/02/2014
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