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A tensão planetária relaxa em 2015 |
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Em 2006, alguns economistas atilados (Roubini e Rajan, p.ex.) avisaram que a bolha imobiliária iria estourar, Saturno em Leão opunha-se a Netuno em Aquário no céu, abrindo uma temporada de aspectos tensos entre planetas lentos que durou até abril de 2014 com a cruz planetária em signos cardinais. Daqui para frente ainda ocorrem quadraturas e oposições de Júpiter e Saturno aos planetas transaturninos, mas nada que se compare à intensidade das configurações anteriores. Muitos problemas continuam reverberando e teremos uma folga até 2020, se as questões não forem abordadas realisticamente a crise adiante será devastadora. Depois de oito anos já é possível fazer um balanço. |
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Economia — Muitos livros foram escritos sobre a crise e antecedentes, para quem não tem tempo para ler basta ver Inside Job (“Trabalho interno”, no Youtube), documentário bem feito com inúmeras entrevistas, não fica a menor dúvida: não houve só euforia com o mercado imobiliário, mas fraude aberta quando bancos recomendavam investimentos aos clientes e apostavam contra. A reunião do G-20 em 2008 evitou uma grande quebradeira e mesmo assim a crise custou 50 milhões de empregos. No ano seguinte Obama tomou posse e nomeou sua equipe econômica com gente antiga envolvida na desregulamentação, além disto, os economistas, jornalistas e agências de avaliação que nada viram antes, continuavam a postos, era um sinal que não haveria mudança substancial, os paraísos fiscais continuam abertos, o mercado de derivativos segue imenso e desregulado, só há um plano para aumentar as margens de capital nos bancos anos à frente. |
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Protestos em Wall Street. |
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Foto de www.acidblacknerd.wordpress.com |
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As mesmas medidas aplicadas em diferentes países produziram efeitos diversos. A heterodoxia nos EUA resultou em alívio, mas no Japão a estagnação retornou. Já a ortodoxia da austeridade deu alívio na Grã-Bretanha, mas prostração na eurozona. A intervenção estatal produziu bons efeitos na Bolívia e levou Argentina e Venezuela à breca. Tudo isto revela que discutir abstratamente receituários econômicos é insensato, é preciso ver as condições de cada país. A concentração de renda e patrimônio, que já era alta antes da crise, aumentou ainda mais e ocupa lugar de destaque nas discussões econômicas, o livro de Piketty, O Capital no século 21 já traduzido, tornou-se um best-seller e o banco Credit Suisse agora publica relatório anual sobre o assunto, abordado em diversas crônicas anteriores. A crise basicamente foi estancada com a absorção das dívidas pelos governos e repassada aos trabalhadores com desemprego, cortes de salários e benefícios sociais. |
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Política nacional — Ocorreram inúmeras manifestações de protesto e insurreições, a maioria fracassou com exceção de Tunísia, Ucrânia e o Estado Islâmico, todos em transtorno, além da Syriza grega e o Podemos espanhol que nasceram de manifestações. Até agora Plutão levou a melhor sobre Urano, mas com o afastamento deste planeta da quadratura atual, talvez a situação mude. As tiranias e ditaduras pelo mundo resistiram e vimos a ascensão de partidos nacionalistas e xenófobos por toda a Europa. Nas democracias onde o voto é facultativo registrou-se queda expressiva no comparecimento e é de temer que restrições às liberdades civis apareçam para manter a política de ‘enriquecer os ricos’ funcionando. A corrupção se alastrou por todos os cantos do planeta e até mesmo no pequeno e pacato Portugal. Juncker, recentemente eleito presidente da Comissão Europeia, é investigado por ter organizado em Luxemburgo uma grande lavanderia a céu aberto. |
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Geopolítica — Os EUA continuam disparados na frente em matéria de poderio militar: como as restrições orçamentárias estão diminuindo os efetivos humanos e investem em tecnologias como os drones. A ascensão chinesa na África e América Latina preocupa o governo americano que reforçou sua presença naval no Pacífico. A China ainda não tem uma frota naval. O apoio americano na Ucrânia está empurrando os russos para o colo chinês, o que terá consequências de longo alcance. O mundo islâmico atravessou uma grande crise política em 2011 que ainda não terminou e está em ebulição; a instituição do Califado, por mais transitória que seja, demonstra a fragilidade dos regimes sírio e iraquiano, tensiona a Turquia com a questão curda e empurra a Arábia para um maciço rearmamento. Com a queda dos preços das matérias-primas a América Latina pode viver mais um ciclo de inquietações sociais, bem como a África subsaariana, onde o arrendamento de terras para estrangeiros provoca descontentamento. A recente queda do preço do petróleo tem também uma dimensão geopolítica, pois enfraquece Rússia, Venezuela e Irã. |
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Garotos em Zâmbia com bandeiras chinesas |
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Foto www.cartamaior.com. |
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Ambiente e clima — Com as economias rastejando, os acordos climáticos foram deixados de lado até agora, quando China e EUA comprometeram-se oficialmente na redução da emissão de gases, o que pode dinamizar o encontro em Paris no ano que vem. Nem por isto a crise amainou, o período registrou eventos extremos de grande envergadura e continuidade, tais como o inverno antecipado no Hemisfério Norte e a seca por aqui. Os prejuízos humanos e materiais foram vultosos. Os oceanos estão cada vez mais poluídos e a pesca predatória dizimou algumas espécies marinhas. Esta é uma questão que não pode mais ser adiada. |
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Mentalidade e cultura — Aqui reside o nó da questão. “Os recursos naturais do planeta são vastos, compre hoje e pague quando puder, seja feliz o tempo todo, o prazer aqui e agora a qualquer custo, a ganância é boa, só é pobre quem quer, troque carro e eletrônicos todo ano, a maioria sempre tem razão, imitemos as celebridades, seja esperto: minta, fraude e saia impune etc.” Com estas frases vivemos os últimos 30 anos, a recente crise abalou um pouco as certezas, mas ainda persistimos nisto, um caminho certo para a derrocada. No cinema, televisão, música popular e outras artes a violência, estridência e velocidade campeiam, o fascínio por malfeitores e psicopatas é ainda maior. Enquanto estas ideias persistirem o destino está traçado, nossa civilização industrial está com os anos contados! |
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Perspectivas para 2015 |
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Em março Marte faz conjunção com Urano e quadratura a Plutão, o que intensificará conflitos. No meio do ano Júpiter acelerado fará alguns aspectos rápidos: trino a Urano, quadratura a Saturno, oposição a Netuno e trino a Plutão, mas os aspectos serão duplicados na retrogradação. Saturno faz uma quadratura a Netuno criando confusão nos países onde o Estado intervém muito na economia, este aspecto será intensificado devido à proximidade dos planetas às grandes estrelas, Antares e Fomalhaut. Quatro eclipses ocorrerão no eixo Áries/Libra, o lunar de abril promete com o Sol próximo a Urano. |
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China — No ano que acaba a China protagonizou a maioria das ações com vastos desdobramentos: os vários acordos com a Rússia, dois bancos de desenvolvimento sediados em Pequim (BRICS e APEC), acordos econômicos e climáticos com EUA, Japão e Coréia do Sul; seu PIB – medido em paridade do poder de compra – ultrapassou o dos EUA. Nem tudo são flores, a transição de uma economia exportadora para uma de consumo doméstico está sendo penosa, a desigualdade social, a corrupção e a poluição alcançaram níveis alarmantes. Júpiter faz uma longa estadia na casa VII, diplomacia e balança comercial, encontrando a conjunção Marte/Plutão em quadratura a Vênus (veja o mapa da China. Este aspecto já apareceu em 2014 e continua, mas podem ocorrer conflitos por Marte/Plutão. Saturno cruzou recentemente o MC, sinalizando mais centralização política no governo e Plutão dirige-se a casa XII: necessidade de um sistema de bem-estar social inadiável e exposição pública das doenças crônicas do país. |
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Ordos, cidade fantasma na China |
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Foto www.hypescience.com |
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EUA — Júpiter transitou Câncer e a economia americana emergiu (o que evidencia que este signo é mesmo a casa II do mapa natal), ainda instável. O planeta ainda trouxe problemas no exterior com a volta ao Iraque, instabilidade no Afeganistão, crise na Ucrânia, governo israelense desatinado e China avultando, além dos problemas domésticos com imigrantes ilegais. A quadratura Urano/Plutão estimulou o mesmo aspecto natal entre Sol/Saturno resultando na reemergência dos conflitos raciais. Netuno começa a fazer quadratura e Saturno fará oposição a Urano natal próximo a Aldebaran, é tensão na certa (veja o mapa). Com um Congresso hostil, Obama joga as últimas cartas no que lhe resta de mandato. A alta dos juros especulada pode desorganizar de vez a combalida economia mundial. |
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Europa — Além da estagnação e ameaça de deflação, os europeus iniciarão um ciclo de problemas políticos que afetam o Executivo (Vênus) da Comissão Europeia. Vários países estão restringindo a entrada de imigrantes e a questão Ucrânia estremece as relações com a Rússia e trazem prognósticos ruins sobre a economia. Júpiter transita o Ascendente Leão e faz oposição ao Sol/Mercúrio/Saturno natais, o que sinaliza questionamentos sobre a própria razão de ser da União e também a grande realização técnica que foi o pouso sobre o cometa (veja o mapa da União Européia). |
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Rússia — A Rússia sofreu um bocado com as sanções ocidentais: fugas de capital, rublo e preço de petróleo em queda, inflação em alta, sumiço de alimentos e ainda assim permanecem firmes na questão ucraniana, esperando que os conflitos políticos e a economia fraca assegurem a independência do leste (Donbass). É um jogo perigoso que pode desembocar em guerra civil. Putin foi isolado no recente G-20 na Austrália e a inclinação para a Ásia deve se intensificar. Júpiter está no Ascendente Leão, a retrogradação promete mais pressão, a posição do governo russo é defensiva, mas mascarada por um ativismo com pés de barro (veja o mapa Rússia). |
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Oriente Médio — No Oriente Médio, depois das pelejas na Faixa de Gaza o governo israelense incrementou a ocupação da Cisjordânia e Jerusalém, revidados por ataques palestinos. Agora países europeus estão dando apoio ao futuro Estado Palestino, mais um problema diplomático para um governo que se isola e quer reformular a Declaração da Independência, tornando os não judeus, cidadãos de segunda classe. Tudo isto om Júpiter em quadratura e Saturno em oposição ao Sol natal. Netuno começa a fazer quadratura a Mercúrio natal (veja o mapa de Israel). |
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O Irã conseguiu uma prorrogação para o acordo nuclear e começa a respirar com inflação declinante, mas o desemprego ainda é alto e o baixo preço do petróleo não ajuda. A ONU declarou que não tem mais fundos para alimentar os milhões de refugiados sírios, a Turquia reluta em mandar tropas para combater o Exército Islâmico já na fronteira e os curdos estão novamente ao deus-dará. O novo governo no Iraque ainda não conseguiu se organizar para banir o EIIL de seu território. |
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Refugiados sírios, agora sem comida |
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Foto do site www.rfi.fr |
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América Latina — Na América Latina, o México recaiu na realidade dos massacres e da corrupção generalizada, exemplificados pelo caso dos estudantes de Iguana e pela mansão da primeira dama. Colômbia, Peru e Chile que vinham crescendo razoavelmente estão sofrendo com a queda do preço de matérias-primas. A Venezuela dispensa comentário e a Argentina desliza para uma explosão popular com a Lua em Capricórnio recebendo a visita de Plutão e Urano no ano que vem (veja o mapa da Argentina). |
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Brasil — O Brasil já foi objeto da crônica anterior [Estiagem num país divido]. Resta acrescentar que a escolha da equipe econômica é resultado da necessidade de um ajuste (uma autocrítica na prática), que a estiagem já desidratou o PIB agropecuário no terceiro trimestre e que as investigações sobre a Petrobrás caminham devagar, mas de maneira eficiente. Dilma ainda não pode escolher os novos ministros, pois se arrisca a vê-los na lista dos indiciados pelo Supremo Tribunal Fedederal. Como previsto, os aliados no Congresso cobraram caro a aprovação do decreto sobre a LDO (Orçamento deficitário). Paulo Roberto vocalizou o que já sabíamos: há propinas correndo em todas as licitações brasileiras. A Polícia Federal prendeu os executivos das empreiteiras no dia da conjunção Sol/Saturno em quadratura à Lua/Júpiter no céu. As grandes empreiteiras decolaram com a construção de Brasília, ganharam musculatura e mercados externos a partir da ditadura quando os dinheiros rolavam para todos os lados. Os detalhes vocês podem ler em A ditadura dos empreiteiros, tese de doutoramento de Pedro Henrique Campos (UFF), encontrável na internet (Veja em PDF). |
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Praias sem fim |
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Foto de www.rap.genius.com |
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Como vemos, há conflitos para todos os gostos ou desgostos, todos negociáveis em tese, mas a distensão planetária induz à complacência e negligência e todo o sofrimento dos últimos oitos anos teriam sido em vão. O grande poeta Rimbaud escreveu Uma temporada no inferno logo depois da Guerra franco-prussiana e da Comuna de Paris (1870/1), dois monumentos à barbárie. Descreve detalhadamente os sofrimentos no ar irrespirável da Europa com o positivismo, racismo e hipocrisia generalizada. No final emerge uma bela imagem baseada numa lenda medieval: Às vezes vejo no céu praias sem fim cobertas de brancas nações alegres. Um grande navio de ouro, acima de mim, agita suas bandeiras multicolores sob as brisas da manhã. |
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Feliz 2015 e boas festas a todos, e paz na terra aos humanos de boa vontade. |
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Contato com o autor:
Rui Sá Silva Barros é historiador, astrólogo e
estudioso da Cabala: rui.ssbarros@uol.com.br
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores |
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